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 Olá a todos e todas!



A crise sanitária, que ainda assola a humanidade, parece que vai terminar mais rápido em alguns lugares do que em outros o que, por si só, é uma característica do capitalismo: Quem pode mais, chora menos.
A tua condição, a tua capacidade está diretamente ligada ao tamanho do teu bolso e como tu faz para preencher este bolso e o que tu fazes com o dinheiro. Quando se discutem governos, este final da última frase "o que tu fazes com o dinheiro" pode ser traduzido como vontade política. 

Se tivéssemos um governo que aceitasse a ciência, não precisava nem entender, bastava aceitar. Isso mesmo, ACEITAR! Mas, como se sabe, não foi que aconteceu. 

Bolsonaro trocou de ministro como alguém que troca de roupa, tratou de divulgar remédios sem a menor serventia ao combate à Covid19, retardou a compra de vacinas além de estar em um mar de denúncias que aparecem nas sessões da CPI da Pandemia que acontece no Senado Federal. A mais recente denúncia de uma propina de 1 dólar por dose de vacina, intermediada por uma empresa localizada em um paraíso fiscal, faz qualquer movimento de corrupção da história recente inclusive a Lava Jato, parecer brincadeira no recreio da escola.

Enquanto isso, mesmo com a pandemia, vemos um movimento contra Bolsonaro e sua política destrutiva, levando multidões às ruas para exigir sua saída. As pessoas mostram sua inconformidade ante toda esta sorte de denúncias contra um governo que diariamente derrete um pouco mais. No mais recente, segundo divulgação de grande imprensa, ocorreram atos em todas as capitais, no distrito federal e mais de uma centena de cidades. Há quem diga que se empurrar ele cai. Será? 

Fica a dica para a reflexão sobre tudo isso que estamos vivenciando e anotem nas suas agendas:

#JCinforma: de segunda a quinta, a partir das 21h, como Pedro Araújo e outro editor (Cláudio Porto, Adriano Garcia, Artur Luiz e eu mesmo) debatem os assuntos do dia.

#BatePapoCultural, sextas-feiras às 20h , eu recebo alguém do cenário da cultura brasileira.

#RedaçãoJC, aos sábados às 15h: Cláudio Porto e os editores debatem os assuntos da semana


Um forte abraço e todos e todas.

Ulisses Santos.






Olá leitores do blog Jovens Cronistas estou de volta ainda mais defensor da educação e da arte como necessidades básicas para nossa reflexão como sujeitos.


A Onda referida no título é um filme alemão de 2008 dirigido por Denis Gansel. O filme se baseia no livro de mesmo nome do escritor Todd Strasser lançado em 1981, fazendo referência ao que aconteceu em 1969 na Califórnia. Já o filme Alemão questiona se existe a possibilidade de um regime Fascista e Nazista acontecer de novo na Alemanha.T

udo começa com o professor de humanidades Rainer Wenger (JürgenVogel) que mesmo inconformado em dar aula de Autocracia ao invés de Anarquia propõe um projeto à turma o qual deveria apresentar como as condições criadas poderiam influenciar no ideal fascista.

Durante a semana a turma escolhe um nome: "A Onda". O que era experiência, um estudo para ver se ainda era possível o fascismo conquistar adeptos, se torna um movimento, ele praticamente toma conta de toda a turma e escola.

Os estudantes têm um jeito de vestir e um símbolo. Saem nas ruas e deixam as marcas da Onda através de pichações e intimidações. Somente o jeito de pensar da Onda é válido. Até o professor, o senhor Wenger, se influencia com o modo de pensar fascista.

O que noto de mais preocupante é a personagem Tim que se deixa envolver demais nos ideais da Onda, chega ao fanatismo.

Essa personagem tem características de adoecimento psicológico ao meu ver e abraça o movimento da Onda de tal modo que a violência é justificável para defender o que ela representa.

No Brasil atual seja pela figura presidencial ou por religiosos que doutrinam não pela lei do amor mas pelo discurso do ódio e o adoecimento da população vivemos um movimento similar a Onda.

Ainda bem que assim como no filme nem todos abraçaram o ideal fascista, nem todos seguem o ideal fascista em nosso País.

Lembrando que o filme é baseado em um livro que tem como referência um acontecimento de 1969 nos Estados Unidos.

Estamos vivendo uma experiência não de uma semana como no filme, mas de dois anos com o agravante da pandemia.

Assista ao filme, leia o livro, e, antes de tudo, conheça a história, estude os tipos de governo que a humanidade já teve, procure o professor de história e sociologia.

Experiências desastrosas como o nazismo e o fascismo não podem voltar (veja o caso da Alemanha, Itália, Espanha).

Não caia nas histórias falsas de que o Golpe de 1964 foi bom.

Bom para quem? Ricos? Empresários que, como nos dias de hoje, em meio à pandemia e mortes estão visando o lucro?

Não acredite nas Fake News, notícias falsas pelo Whatsapp.

Vamos dar valor a vida, essa Onda vai passar.

Link para o filme no YouTube: https://bityli.com/piCV9



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Completou 100 anos, esta semana, em 29/03, o texto conhecido como "Oração aos Moços" de Rui Barbosa. O texto fora originalmente escrito pelo renomado jurista por força de convite - por si declinado, por questões de saúde - para ser paraninfo da turma de formandos da faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo. O documento tomou tamanha repercussão que fora publicado e republicado por diversas editoras desde então, de sorte a tornar-se verdadeiro clássico da literatura jurídica nacional. Não à toa, todo e qualquer operador do Direito tem ao menos conhecimento da existência de tal obra. Pois bem... o que dizer sobre este fato?      

 


Inicialmente, cumpre referir que o texto redigido pelo aludido jurisconsulto endereçava-se, justamente, a novos futuros advogados. Neste sentido, é natural ler-se nele mensagens aos vindouros profissionais do Direito, como, por exemplo, as que se destacaram ao longo do tempo, conforme a seguir: "Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta"; "não fazer da banca balcão, ou da ciência mercatura"; ou, ainda, "Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis."


Sem dúvidas, estas são muito importantes lições a serem transmitidas e introspectadas por todo e qualquer estudante que deseje ingressar neste hoje definitivamente nada tão seleto universo, o dos advogados no Brasil. Ocorre, contudo, que, como destacamos no início, fazem, hoje, cem anos desde que Rui Barbosa redigiu sua mensagem aos novos advogados. A (nossa) realidade, contudo, se modificou em nosso país e, arrisco a dizer: para pior!


Para além de questionarmos as inclinações políticas e ideológicas de Rui Barbosa, no intuito de compreendê-lo em toda sua integralidade, eu hoje quero falar com vocês em primeira pessoa. Quero dialogar, mesmo que à distância, especialmente com aqueles que aspiram à nobre, embora não mais tão valorizada carreira de advogado nesta nação. Para tanto, me reporto novamente à obra em comento, apenas para dizer, como o fez o aludido jurista, que minha fala deve ser tomada, por vós, como se presencial fosse, como estivéssemos, nós, lado-a-lado, não apenas em um diálogo presencial, mas de braços dados na luta que abaixo irei lhes transcrever.[1]

E tendo dito isso, lhes convido à reflexão real sobre o atual dever e incumbência do advogado em nosso tempo. Sim, por certo ainda temos o compromisso para com a justiça e etc, mas... mais do que isso, penso eu e explico, pelo que nomearei aqui de "(minha) oração (e/ou, por que não, manifesto) aos advogados e estudantes de direito":

Comecemos assim, caros e futuros colegas: de minha parte, logrei obter registro na OAB/SC no ano de 2015, sob o número 43.457, e eis que 5 anos depois - ou, se preferirem, em exatos 100 anos depois que Rui Barbosa falou, em certo sentido, também a vós - eu recebi, em meu escritório, não um cliente, mas uma advogada. Em sua mensagem, chamou-me, de pronto, a atenção, o seu clamor: requereu-me, a jovem colega, que ENCARECIDAMENTE lesse o seu currículo. Isso espelha, por certo, a situação dos advogados em nosso país e é dela que desejo falar, sem necessariamente apegar-me apenas ao caso da pretendente em questão. O que me chamou a atenção não fora apenas o seu aparente desespero em ocupar vaga em nosso modesto, ainda que sobrevivente, escritório. Fora, sim, o seu número de inscrição na OAB. Seu número ultrapassava a ordem dos 60 mil. De pronto, tomei-me de assombro, com uma simples operação matemática, donde, subtraindo o meu número de registro do seu, tomei a infeliz consciência de que, nestes cinco anos, desde que ingressei nesta profissão, somaram-se a nós nada menos do que dezesseis mil e quinhentos novos profissionais apenas em nosso Estado. Isso significa, senhores, que, a cada ano, apenas em Santa Catarina, formam-se e passam a integrar os nossos quadros quase quatro mil novos advogados todo ano! Pois bem... neste instante lhes deve estar passando pelas cabeças: no que isso implica e o que fazer quanto a isso?



Lhes digo: vivemos em um Estado Liberal burguês, onde a liberdade é de poucos, para oprimir muitos - a classe trabalhadora, no caso.

Neste sentido, "lei da oferta e demanda" acrescida a exército de reserva dos desempregados, resulta em precarização das condições de trabalho, pois não?

Mas e daí?

E aí, meus amigos, que a OAB é, de longe, o órgão de representação de classe mais caro do país. Aos formados de outras áreas, me digam: quanto pagam a seus respectivos órgãos? Pois pasmem, novos operadores do Direito: no Estado de Santa Catarina, os advogados contribuem anualmente com mais de mil reais!

Dito isso, lhes pergunto: para que pagamos tudo isso e o que este fato tem a ver com que falávamos até então?

Bem... aí vem a questão: se a tendência de um mercado inflado e pautado pelo liberalismo burguês é diminuir direitos da classe trabalhadora, então é dever dos órgãos de proteção garantir que (ao menos) o mínimo de dignidade seja mantido a cada profissional, correto? Pois se assim o é, então saibam: A OAB até hoje simplesmente jamais estabeleceu coisas como um piso salarial aos advogados!

E não é só isso: escritório de advocacia não é padaria, onde os transeuntes entram para comprar quando passam pela rua, por ser a panificadora mais próxima ou por sentirem-se atraídos pelo aroma de pão quentinho. Logo, abrir um escritório exigiria capital e tempo, o que não é a realidade da imensa maioria dos recém formados. Por outro lado, alguém acaso sabe como um advogado é contratado por algum escritório? Pois eu lhes conto: pode ser pela CLT, mas... também pode ser como associado ou sócio minoritário.

E o que é isso?

Explico: associado ou sócio minoritário é, em regra, um membro da sociedade advocatícia que, na qualidade de tal, divide, hipoteticamente, os resultados da mesma. Na prática, porém, os associados nunca ganham mais do que o mínimo, com um diferencial!!

Conseguem adivinhar qual é?

Pode parecer óbvio, mas....... os "sócios minoritários" ou os "associados" NÃO SÃO EMPREGADOS, logo...... não gozam de NENHUMA garantia trabalhista!!!

O que isso significa, na prática?

Isso implica em que os advogados, em geral, 1- não tem salário mínimo; 2- não tem férias remuneradas; 3- não tem gratificação natalina (13º salário); 4- não tem FGTS; 5- não tem aposentadoria; 6- não tem limite de horas semanais de trabalho. São, em suma, escravos!

Poderiam nos dizer: "tá, mas... então por que ninguém reclama ou faz alguma coisa?" ou "Por que a OAB não toma parte nisso?" Bem, jovens mancebos, deixem-me contar duas coisas:

1- A OAB é uma instituição liberal burguesa, derivada do Estado burguês em que vivemos. Logo, esperar que a mesma defenda a classe trabalhadora que ela diz representar - em sentido contrário à noção de liberdade que o liberalismo prega, enquanto promove e incentiva a total submissão de muitos, em prol de poucos - seria ingenuidade, no mínimo incompatível aos que desejam, para si - mesmo que imerecidamente - o título de "doutores". A OAB, como instituição liberal que é, serve aos grandes escritórios, que lucram, justamente, com a opressão de seus pares, e nada mais.

2- Acreditem ou não, mas o mundo é muito maior e muito mais complexo do que aquele que lhes foi apresentado durante os 5 anos da graduação. Assim, devo lhes dizer: na prática, a faculdade de direito, da qual são egressos, foi, e é, na verdade e acima de tudo, antes de uma simples instituição de ensino, um grandessíssimo sistema de PROPAGANDA do Estado Burguês e de sua Estrutura jurídica LIBERAL.[2] Assim, caros colegas, quem se forma em Direito e não pensa e estuda fora da caixa, (pasme) sai não graduado, mas, sim, doutrinado em liberalismo e pronto a defender não os direitos das pessoas, mas, paradoxalmente, as grandes estruturas que os oprimem - a si e aos próprios clientes, cujo dever era proteger!

As consequências disso? Uma massa de sub/desempregados sem consciência de classe que 1- ou aceitam qualquer coisa em troca de dinheiro para não morrer de fome - mesmo tendo estudado durante anos para estar ali; ou 2- integram uma massa de concurseiros (igualmente frustrada, em sua maioria) que 2.1 ou vive literalmente na merda; ou 2.2 passa em um concurso sem qualquer vocação para o exercício da profissão, tornando-se, assim, um péssimo profissional!


"Ok", me diriam, mas... "o que fazer neste cenário"?

Pois bem... Lhes digo: o caminho não é fácil e tampouco curto. O primeiro passo, contudo, é ter consciência do que aqui foi dito - na hora de escolher o curso e de ingressar neste nicho do mercado de trabalho. A partir disso, recomendo:

1- não faça direito para ficar rico - porque você não vai!
2- Se já ingressou na carreira e não está disposto a desistir tão fácil, então... dica: organize-se! Faça-se presente na OAB. Exija seus direitos e dos demais trabalhadores do direito iguais a você!
3- Não limite sua militância apenas à advocacia. Essa luta é contra o sistema como um todo, que permite a opressão e a institucionaliza e defende. Assim, junte-se a outros trabalhadores já conscientes; conscientize os que ainda não estão; e lute!

Você fez/faz Direito para fazer (e garantir) direito(s), e não para ser oprimido e calar!

Ou isso, ou você não merece mesmo a alcunha que recebe:

"Ad vocatus", do latim, "aquele que é chamado para defender!"

Em suma: ADVOGADOS, UNI-VOS!




Abraços advocatícios e revolucionários!

Até a próxima!

[1]Recomendo que leiam a obra na íntegra. Nela, dentre outros, Rui Barbosa apresenta suas escusas pela impossibilidade de se fazer presente no evento para o qual foi convidado. Sua fala é tão bela que me abstenho de reproduzi-la, pois devo dizer: ninguém é capaz de sequer parafraseá-la!

[2] Recomendo, aos que ainda pensam que liberalismo tem a ver com liberdade, que leiam o livro "A Contra história do Liberalismo", de Domenico Losurdo, em que o historiador se presta a demonstrar, justamente, que, o que se conhece por "liberalismo" sempre esteve, em verdade, atrelado a práticas completamente avessas à qualquer noção de liberdade, como, por exemplo, a escravidão.

Olá, prezados!

 

Lá vamos nós de novo para aquela nossa viagem louca pelas principais notícias jurídicas (e não menos ensandecidas) do nosso país. Mais uma vez a temática de nosso papo por aqui resta evidente, do tipo "só se fala noutra cousa", então, vamos em frente.


O juiz Moro foi julgado parcial. O que isso significa e o que temos a dizer quanto ao julgamento?

Pois bem... inicialmente a parte técnica: o julgamento de ontem, 23/3, foi proferido em processo relativo ao ex-presidente Lula. Moro não era réu. A sua suspeição foi arguida no intuito de determinar (apenas e tão somente) a nulidade do processo, recuperando os direitos civis e políticos do ex comandante mor da república brasileira. Lula foi inocentado ontem? Nem sim, nem não, muito antes pelo contrário! A inocência, meus caros amigos, é a regra em nosso sistema. Assim, se nada houver em contrário (e esse nada tem de ser uma sentença penal condenatória transitada em julgado, segundo termos de nossa vigente Constituição) a pessoa é considerada inocente. Neste sentido, a anulação do processo não determina, propriamente, a inocência do réu. Quem o faz é a Carta Magna! De toda forma, e para efeitos práticos, sim: Lula recupera (como já houvera recuperado desde a última decisão do ministro Fachin) o seu status de "inocente até que se prove em contrário".

De toda sorte, vale questionar: temos somente a comemorar ou alguma coisa pode ser dita de ruim neste instante já suficientemente caótico em que vivemos?



Pois bem... comecemos pelo seguinte: por um lado, é princípio basilar dos sistemas jurídicos contemporâneos que o juiz seja imparcial. É direito reconhecido de todo e qualquer cidadão o julgamento através de um tribunal plenamente isento. Por outro, a questão da suspeição do juiz Moro é do tipo clarividente, mais especificamente da modalidade "só não vê quem não quer". Dito isso, o que temos é o seguinte: se não reconhecida, estaríamos a fazer ruir todo o sistema pelo qual até então vivemos e lutamos para se manter íntegro, pois, deve-se dizer: onde não há julgamentos imparciais, não há, verdadeiramente, Direito.


"DeMOROu". Tardou. Falhou, mas veio a Justiça e com ela o reconhecimento do óbvio e "uLULAnte", se me permitem o trocardalho. Como no mito do imperador que vai à festa nu - porque, engambelado pelos alfaiates, pensa vestir trajes que somente os inteligentes veem - a democracia brasileira esteve nua enquanto MP e Juiz tramavam golpe político em prol de projeto de enriquecimento pessoal e entrega do país ao estrangeiro e ao capital especulativo. No dia de ontem, uma criança, com toda a verdade esperável de quem ainda não se submete aos constrangimentos (ilegais) da vida adulta, disse o que tinha de ser dito: o imperador (juiz) está nu! Era o que tinha de ser dito. O juiz Moro foi parcial. Isso todos já sabíamos. O que faltava mesmo era anunciarem. Trazer à luz do dia. E isso foi feito. Nada a declarar e nada de novo neste "front". Como já dito, a nudez do imperador/juiz nu era notável. O que se esperava é que alguém assim o dissesse, com repercussão geral. O que me chama a atenção é o seguinte: o óbvio mais uma vez foi dito em placar apertado: 3 x 2.

Obs.: Vamos virar esse placar aqui no texto, mas, por enquanto, ficamos assim.



Dos que declararam o óbvio, igualmente, nada a declarar. Fizeram apenas o que se esperava de alguém em seu juízo perfeito, mas... e os demais? Nomeadamente, deixaram de reconhecer o óbvio, o recém empossado Ministro Kássio (Conká?) e o Fachin (aquele do "Aha, Uhul!, o Fachin é nosso!", para parafrasear Deltan, o menino prodígio). Sobre os votos de cada um, gostaria de fixar um olhar mais atento:

Kássio argumentou contra um espantalho ao atacar, a todo instante, em sua decisão, as ditas "provas ilícitas" obtidas pelo Jornal The Intercept. Detalhe: as conversas vazadas não instruíram o aludido processo! Simplesmente não faziam parte do mesmo! É ataque ao espantalho justamente por isso: criou um argumento falso (espantalho) e o atacou, para (falsamente) dar por vencida a tese contrária - a suspeição do Moro. Mas Conká (o Kássio) vai adiante: arguiu, ainda, pela ampla defesa a ser concedida ao.......juiz!!! Indubio pro iudex(juiz)?? Oi??! Detalhe/obviedade-que-precisa-ser-dita 2: pasmem, mas o juiz não estava sendo julgado! O julgamento é do Lula! A arguição de parcialidade se dá tão somente para fins de julgar se o PROCESSO (contra o Lula!) é nulo. Isso e nada mais. Sendo ela constatada, não há pena ao juiz. E se não há, não deve haver que se falar em defesa... do juiz! Risível, não fosse o caso de ser decisão de um representante da mais alta corte de nosso país. De toda sorte, vale dizer: não tendo ido direto ao ponto (que é obrigação sua), decidiu de maneira objetivamente equivocada. Seu voto é nulo por simplesmente não enfrentar o mérito. É como se, num processo criminal, o juiz decidisse com uma receita de bolo, ao invés de condenar ou inocentar o réu.


Voto contra-o-óbvio 2: Ministro Fachin

Se Conká (o ministro) fez o que fez - sem provas , claro, mas - com convicção, Fachin foi mais tímido. Em bom português, "fez que foi, mas não foi, e acabou fondo!" Drible da vaca hermenêutico. Novo ornitorrinco jurídico! Diferente de seu par(ia), V. Exa. não apelou à legitima defesa do juiz(??????). Apelou, antes, à necessidade de processo próprio para julgar.... a parcialidade... de juiz... no processo em questão... (????)


Minuto de silêncio a todos os penalistas e constitucionalistas sérios deste país. Todos eles (nós) morreram um pouco por dentro ao ouvir isso, certamente. Veja bem o que restou dito: pra julgar a parcialidade de um juiz em determinado processo, haveria que se mover processo próprio para julgá-la? E o processo onde ela ocorreu, não seria, justamente, este processo? Onde se julga a parcialidade processual de um juiz senão no processo onde ele foi, justamente, parcial? Disse, o ministro, que repudia os contatos havidos entre MP e Juiz. Que tal atitude é anti democrática e anti republicana, mas...................... que isso merecia processo próprio para ser apreciado (?????)

Entendo a confusão (que um leigo possa fazer. Não o Ministro): parece querer dizer que o julgamento do crime de utilização da máquina pública para fins políticos e particulares, no exercício de cargo ou função pública, é crime (do juiz Moro) a ser apurado em processo criminal próprio, onde reste instaurado o contraditório e a ampla defesa (com julgamento imparcial, veja só!). Corretíssimo. E acho que tem de ser instaurado processo criminal contra o juizeco de Maringá mesmo. Mas............................... pura e simplesmente: não era propriamente este o objeto que estava sendo discutido. Explico: a pergunta a ser respondida pelos Ministros era "o juiz foi parcial? Se sim, então o processo contra o Lula é nulo?" e não "o juiz Moro foi parcial? Se sim, pena de X anos pelo crime de prevaricação (ou seja lá qual for o tipo penal a que se enquadre os atos praticados pelo ex-juiz)". Assim sendo, responder algo do tipo "esta decisão precisa de processo próprio" é uma fuga ao tema, coisa que aprendemos ser equivocada desde os tempos de pré-vestibular, ao estudar para a redação.

E aqui vale novamente lembrar: aos juízes é vedado não decidir desde o código napoleônico de 1804, consagrado no princípio jurídico do "non liquet". Pois se o ministro foi provocado a dizer se o juiz de primeiro grau foi ou não parcial neste ou naquele processo, então tem de, neste ou naquele processo, se manifestar, justamente, sobre a arguida parcialidade do magistrado a quo! Não tem escapatória - ou, se tem, ela é nula! Simples assim!



Tendo desviado do assunto, é como se não houvesse decidido. Neste sentido, reforço: não foram 3 votos a 2. Foram 3 votos contra NAD(eg)A(s)!


Foram 3 votos contra duas receitas de bolo. O bolo fecal em que a teoria (e prática) jurídica brasileira está inserida. É o velho lance do juiz que decide como quer, segundo suas próprias convicções.


Grave erro contra tudo que há de mais caro ao nosso sistema jurídico e eu explico o porquê. Desde a revolução francesa, luta-se contra o uso arbitrário de poder. Assim, naquele tempo determinou-se que aos juízes era simplesmente vedado interpretar, sendo-lhes obrigatório, ao revés, apenas aplicar, mecanicamente, os textos normativos. Com o tempo isso se mostrou insuficiente à sanar todos os problemas de uma sociedade em crescimento, sobretudo com as revoluções industriais em ascensão. Somando-se a isso as grandes guerras, especialmente a Segunda, restou que aos juízes não apenas fora concedida (pela famigerada fórmula de Radbruch - não confundir com Radcliffe, ator de Harry Potter) maior liberdade interpretativa para determinar os sentidos dos textos jurídico-normativos, como também a eles, principalmente na Alemanha, restou reconhecido o poder/dever de ultrapassar as competências do legislativo toda vez que as normas editadas pelo mesmo demonstrassem-se demasiado injustas.


Pois no Brasil isso serviu não para refrear um legislativo/executivo despótico, mas, ao revés, para desenvolver verdadeira "judiciariocracia", onde, na prática, os juízes, sobretudo os da suprema corte, decidem como querem e este é o Direito, não obstante haja expressa positivação em sentido contrário. Veja-se a inversão de valores e total contrassenso que isso representa: para enfrentar o despotismo do legislativo, concedemos poder ilimitado aos... juízes? Algo do tipo... "se ficar o bicho come, se correr o bicho pega"? Bem... não é disso que tratam as Cartas Constitucionais dos sistemas jurídicos contemporâneos. Aqui, como em boa parte do mundo, fala-se em separação dos poderes. Garantias constitucionais. Onde ninguém pode tudo e o todo vem das partes. Os meios justificam os fins, e não o contrário. O direito é pelo povo e para o povo, nos limites da Constituição. Pois se assim o é, e se - relembrando - o próprio STF é cria desta Carta que, justamente, impede que seus ministros façam o que bem entendem, então, deve-se dizer: estamos com problemas! Algo do gênero: os controladores controlam as pessoas, mas quem controla o controlador? Quem julga os juízes? O STF. E quem julga o STF? Tenho uma opinião/sugestão: o povo! Não a massa acrítica dos que se deixam levar pelos discursos midiáticos e terminam com ataques espalhafatosos e pouco efetivos, mas a camada daqueles que, conhecedores do que aqui explicito, ou gritam em alto e bom som que o imperador está nu, ou calam e dele se tornam cúmplices.


Os campos de futebol (e de batalhas) hoje estão sem "torcidas" em razão da pandemia, mas isso não pode nos impedir de gritar. Nosso time, a Democracia e o Estado de Direito, ganhou ontem, e foi de 3 x 0, não de 3 x 2. Ganhamos foi de W.O. do fascismo e da arbitrariedade. Não por outra razão, merecemos, mais do que nunca, bradar o vexame do time contrário e, por fim, (por que não?) pedir música - e retratação da mídia golpista - no fantástico!


A todos, uma boa, imparcial e democrática semana!

Se puder, fique em casa!

Abraços constitucionais e até a próxima!

Sobre a coluna

A coluna Homo Juris é publicada sempre às quartas-feiras.
Olá prezados e prezadas!

É com grande satisfação (e tradicional pedido de escusas pelo hiato dos textos por aqui publicados) que inicio novamente nosso papo semanal, tratando sobre as principais notícias jurídicas de nosso país.


A bola da vez já é conhecida por todos com o mínimo acesso a internet: a anulação dos processos de Lula, que outrora o condenaram à prisão e o impediram de disputar o pleito de 2018.

 

Bem... Quanto a isso, vamos lá:

O processo fora objeto de uma série de Habeas Corpus impetrados pela defesa do petista ao longo do tempo, remédio constitucional esse q serve, justamente, para coibir o cerceamento da liberdade de ir e vir em razão de atos ilegais perpetrados por autoridades públicas. Bem... Dos múltiplos HCs pendentes na mesa do STF, o relator de um deles, ministro Fachin, decidiu ontem: os processos contra Lula são nulos. Maravilha. São mesmo e assim tinham de ser reconhecidos. A dúvida é: decidiu, o ministro, pelas razões certas? E isso importa tanto? Bem... Vejamos:

V. Exa. decidiu conceder a ordem, anulando os processos, sob a alegação de que os mesmos são nulos em face da incompetência do juízo a quo. Explico. A competência para julgar ações penais se dá, em via de regra, ao juízo do local onde os crimes foram cometidos. Bem... No caso do Lula, a acusação fora de ter recebido vantagens indevidas da Odebrecht, mais especificamente um sítio em Atibaia/SP e um apartamento no Guaruja - São Paulo capital. Bem... pela regra acima, deveriam julgar os casos, a justiça de São Paulo ou, então, a de Brasília, pois o presidente lá trabalhava e, assim, pressupõe-se que, se cometeu crime em razão de sua função, o fez onde estava trabalhando, justamente, correto? Bem... Esse não foi o "entendimento" da Lava Jato à época. Deram um "drible da vaca" hermenêutico para puxar a competência para Curitiba e assim instauraram o processo por lá. Caso estapafúrdio. Gritantemente nulo. Acertada a decisão do ministro, mas... há mais alguma coisa a ser dito a respeito, ou tudo termina aqui? Veja: estamos diante de um caso cuja ilegalidade salta aos olhos, e que, não obstante, fora referendada inclusive pelos tribunais de segunda instância! O próprio STF já fora defrontado com tal nulidade e nada fez.

Ah, e só para lembrar: nulidades são matéria de ordem pública. Assim, os magistrados podem e devem se manifestar SEMPRE sobre elas, a qualquer tempo e por iniciativa própria, inclusive! Não precisa que ninguém lhes peça ou diga para reconhecer!

Dito isso, perguntas como "por que só agora?" inevitavelmente retumbam nas almas sanas que ainda restam neste país. Há rumores - na minha própria cabeça - de que tal decisão fora assim fundamentada em razão do seguinte: já não é mais escusável que se mantenha os processos do Lula em estado de plena validade. A "vaza Jato" já não permite que assim se proceda. São absoluta e escancaradamente nulos.

O fundamento principal, sabemos: a suspeição do juiz Moro e do próprio MP - outrora concebido enquanto "fiscal da lei", veja só! A anulação do processo em razão da suspeição poderia, contudo, fazer ruir (ainda mais) o mito da Lava Jato criado anos atrás - inocentando Lula, por certo, mas, ainda mais: fazendo prosperar a narrativa de que 1-foi golpe; 2- foi mais golpe ainda quando juiz e MP entraram em conluio para - prender em segunda instância réu que, pela Constituição, deveria ser considerado inocente até trânsito em julgado e, assim - retirar do pleito um favorito candidato às eleições de 2018, o que deflagra fraude eleitoral e suja de sangue as mãos de quem, como boa parte dos ministros da suprema corte, algum dia apoiou versão contrária. Diante de tal impasse, como poderia Vossa Salomônica Excelência sair pela tangente?


Possível conversa interna na cabeça do ministro, entre si para consigo mesmo:

"Seguinte: não tá dando mais pra manter essa Lava Jato, cara. Os cara escancararam tudo... E aí, o que a gente faz? Opa! Mas lembra do lance da incompetência? Lembro! Bora alegar! Anulamos o processo com base nela, nos eximindo da responsabilidade de ter convalidado um processo escancaradamente nulo, ao passo que deixamos a chama lavajatista em fogo brando, apagada jamais! Assim, não ficamos como referendários do absurdo, ao passo que não manchamos nossa biografia endossando narrativas contraditórias à nosso próprio posicionamento anterior, como as recém expostas. Voilà! Partiu! Eureka!"



Conjecturas à parte, assim foi feito. Os processos foram anulados por força da incompetência e não da suspeição. Ainda é possível que os demais ministros analisem tal tema, porém, desde logo, o que podemos disso extrair? Temos mais motivos a comemorar ou a nos preocupar? Bem... de minha parte penso o seguinte: posteriormente à promulgação da Constituição Federal de 1988, tem-se que o direito - e especialmente o processo penal - é marcado por uma série de requisitos formais, frente aos quais nada pode ser feito pelo estado, sobretudo se contrário a direitos individuais dos cidadãos. Neste sentido, não valem mais as máximas como "os fins justificam os meios". É o oposto que vale em um Estado de direito. São os meios, os únicos capazes de justificar os fins. Lembremo-nos: "ninguém será considerado culpado antes do trânsito em julgado...". Logo, é o trânsito em julgado que faz alguém culpado, juridicamente falando, e não o eventual e/ou hipotético delito. Assim também, não apenas importam as disposições finais de uma decisão judicial - no sentido de se dizer coisas como "inocente", "culpado", "nulo" ou "legal". Não é a afirmação de nulidade que torna o processo nulo, mas justamente os fundamentos pelos quais assim se sustentou. Pois se assim o é, deve-se dizer: os fundamentos importam e muito ao direito e eu explico o porquê.


Nós, cidadãos, integrantes de um Estado Democrático de Direito somos herdeiros de uma tradição liberal de luta contra o uso despótico de poder. Assim, lutaram, os revoltosos franceses, à época, pela determinação de regras pré-ordenadas para regular o convívio social, como forma de repúdio e total afastamento das arbitrariedades do governante. Neste sentido, cada ato do poder em questão passaria a ter de estar previamente fundamentado em lei para somente então ver-se aplicado na prática. Sim, o direito mudou de lá para cá e já não concebemos que apenas a "letra fria" da lei seja suficiente para regulamentar o convívio social de sociedades tão complexas quanto as atuais. Disso, porém, não se pode concluir que tenhamos retornado à forma de Estado cuja vontade dos poderosos é soberana. Não à toa - e por isso mesmo - falamos de Estado de Direito e não de reinos de famílias tal e tal. É que o Direito já não é mais visto como reles conjunto de regras escritas. É, antes disso, a sua interpretação, dada caso a caso, num amalgama entre textos, contextos e princípios. Mas veja: interpretar não é fazer o que se bem entende. Interpretar não é dizer qual cor lhe agrada mais. Interpretar é atribuir sentido e esses vêm da história/tradição. Assim, não pertencem a um sujeito só, bem como não estão dados às subjetividades individuais. Pois se assim é que é, então, veja: Fachin ter decidido o caso em apreço tão somente com base na incompetência do foro, desprezando as demais questões - a exemplo da flagrante suspeição do juiz Moro -, com o único fito de não assumir o grave erro institucional cometido até então, é ato anti-jurídico, pois, ao decidir em proveito próprio (lê-se: para não "manchar a própria biografia" - manchando-a, paradoxalmente), está, acima de tudo, desrespeitando a própria tradição do Direito, enquanto conjunto de normas idealizadas para fins de justamente coibir o uso arbitrário de poder.


Esta é uma patologia antiga de que padecem os membros do judiciário. O Lula está livre? Está, embora ainda possa sofrer novo processo. O Brasil ganha enquanto nação, cuja justiça tardou, falhou, mas, ao fim, reduziu danos práticos perpetrados a um cidadão ilegitimamente condenado. Perde, todavia, ao seguir sendo um Estado governado pelo arbítrio dos julgadores. A nós mortais resta assistir e criticar, até onde nossas forças nos permitam ir.


P.S.1: Este texto (e o seu título) deve servir para isso: para que tenhamos, todos, os olhos abertos, e saibamos que, no "triângulo processual" do direito contemporâneo, o que vale é a (fundamentada) "hipotenusa", que só se obtém "enquadrando-se" os "catetos" - e não saindo pela tangente!


P.S.2: por falar em geometria, nas antigas aulas de escola, ainda me recordo: professor dizia que não bastava escrever o resultado. Tinha que demonstrar como se chegou nele. Não sei o que fizemos depois disso, mas aparentemente esquecemos dessa regra de ouro ao sair de lá...

Abraços democráticos e até a próxima!


Sobre a coluna

A coluna Homo Juris é publicada sempre às quartas-feiras.
O ódio se reinventa, torna-se digital e ganha uma maneira moderna de destruir vidas e famílias inteiras: a cultura do cancelamento. Deixar de seguir alguém ou simplesmente deixar de consumir o conteúdo produzido por tal pessoa não é o suficiente para a cultura do cancelamento. Os erros ou opiniões divergentes da grande massa virtual rapidamente cria uma onda de ostracismo gigantesca. Linchamento virtual e em alguns casos ameaças de morte.

O ódio insano vestido de cultura do cancelamento gera barbaridades sem precedentes. Em vários casos acaba virando caso de polícia. Mas o que seria a cultura do cancelamento? Onde ela extrapola a opinião e discordância dos seguidores ou curiosos virtuais?


Como tantas outras culturas que adoecem, a cultura do cancelamento foi importada para nosso País, criada para mudar políticas violentas das grandes e pequenas corporações. Personalidades da internet compartilhavam e faziam viralizar vídeos, áudios, documentos, enfim, algum conteúdo comprometedor, provas capazes de denunciar ações torpes das empresas. A política do cancelamento era utilizada para denunciar crimes como escravidão, ou situações análogas a ela, produção de bens a partir do trabalho infantil, matéria prima oriunda do desmatamento ou contrabando, política institucional racista etc. A denúncia ganhava proporções fora do comum, tornando-se incontrolável. A consequência era queda nas vendas, desvalorização do valor de mercado, boicote das empresas e afins.

Algo importante precisa ser considerado em relação a essa face do cancelamento, as empresas têm seus sócios e acionistas protegidos por seu CNPJ, não é comum que os proprietários tenham sua vida virada pelo avesso, sofram ameaças, inclusive de morte. As empresas, com poder econômico que possuem, rapidamente fazem controle dos danos, contratam personalidades confiáveis para o marketing social e superam a situação. Vocês lembram do assassinato ocorrido em uma unidade do supermercado da rede Carrefour? Pois bem, esse é um exemplo do que falo.


Quando essa política do cancelamento passa a ser direcionada para pessoas físicas, a situação é bem mais complicada. O ódio, o ostracismo, o linchamento chegam ao cancelado, a seus filhos, companheiros (as), mães e pais. As pessoas cancelam alguém por uma atitude errada, mas agem como hienas sanguinárias, cometem horrores que superam qualquer erro do seu alvo. Diferente das empresas, as pessoas físicas não possuem o arcabouço jurídico, não possuem o poder econômico, tampouco estão protegidas por uma razão social.

Em que essas pessoas envenenadas por ódio são melhores do que aquela que foi cancelada?

Discordar de alguém, discordar de uma atitude, de uma ação, não nos dá o direito de destruir vidas. É comum que escutemos as pessoas pregarem a evolução humana, a mudança para melhor das pessoas, a espiritualidade, mas no primeiro erro, essas pessoas enlouquecem a ponto de parar todo um país por conta de um cancelamento. A máxima de aprender com os erros deixa de existir, a outra face oferecida dá lugar ao olho por olho, os fins, para cancelar alguém, justificam os meios.

Em que você é melhor? Consegue responder?

Muitas pessoas não conseguem liberar os demônios que possuem nem mesmo quando se trancam no banheiro. Ao se olhar no espelho, sentem vergonha do que veem refletido, elas lutam diariamente, evoluem para controlar ou aniquilar essa face obscura. Elas sentem vergonha de se ver ali refletidas, nuas sem personagens. Por outro lado, diante da tela do computador, celular ou tablete, esses demônios se revelam, estão ali sendo refletidos, mas a dinâmica da tela não os deixam revelar, a única maneira de saber que ele está ali é lendo o que essas pessoas escrevem ou comentam na internet. A leitura geralmente assusta, é um conteúdo desumano. Acredito que se lêssemos com calma, antes de publicar, não publicaríamos.

A cultura do cancelamento, utilizada para esse fim, é a chave para que nos tornemos piores a cada dia, a maneira que a parte sombria que habita em todos nós encontrou de sucumbir à luz.

Por fim, desejo que cada um de nós não sejamos seduzimos por essa pratica infame.

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A coluna Brasilis é publicada sempre às quintas-feiras.
O Brasil encontra-se à deriva. Já faz mais de dois anos que entramos numa tempestade sombria de destruição de nossos direitos e conquistas. As chuvas rapidamente transformam-se em tempestades e as tempestades em tsunamis, os tsunamis, por sua vez, são traduzidos em mortes de milhares de brasileiros.

Essa catástrofe me fez pensar em colheita, como o que plantamos germina, cresce e enche nossos celeiros, tudo a partir da cultura que escolhemos semear. Engraçado é ver milhares de pessoas que plantaram o bolsonarismo querendo colher amor, empatia, respeito, crescimento econômico, vacina, defesa da coisa pública, cuidados com saúde e educação. Sinto desapontá-los, mas nada disso germinará no bolsonarismo, que veio para desconstruir o crescimento coletivo, em detrimento da defesa de seus interesses particulares.


Estamos vivendo os piores anos de nossa geração, revivendo dores causadas pela ditadura militar de 1964. Colhemos o que a maioria dos brasileiros plantou em 2018. Há um contexto perverso por detrás do processo eleitoral, é verdade, mas como diz um ditado popular: “agora não adianta chorar pelo leite derramado”, a hora é de ação, de indignação, de pressionar o sistema para frear a barbárie desse governo.

O grande problema dessa colheita maldita é que a morte e a miséria estão sendo normalizadas. O Brasil voltou para o mapa da fome e não há nenhuma movimentação para mudar isso. A pandemia do novo coronavírus voltou a matar mais de mil pessoas por dia e nós continuamos inertes em relação às cobranças pela vacinação em massa. Queremos festas, comércio aberto, cobramos dos gestores locais, mas do governo federal nada.

Há ampla defesa dos interesses próprios do homem que atua como presidente, omissão do poder judiciário e da sociedade civil, esta última surfando nessa onda pagando para ver o que acontecerá de pior.
 


Recentemente veio à tona, mais uma vez, a mensagem do ex-comandante do exército brasileiro, Eduardo Villas Bôas, dando um ultimato ao Supremo tribunal Federal - STF à época que seria julgado pela corte um pedido de habeas corpus para o ex-presidente Lula. A declaração do ex-general foi postada em uma rede social, não era segredo de justiça, mas só agora o Supremo reagiu, após publicação de um livro, em que Villas Bôas relata o fato.

Diante do exposto evidencio como nosso judiciário tem sido omisso, assim como a declaração citada, diversos outros agentes envolvidos na cena política brasileira cometem absurdos, verdadeiros atentados contra ordem democrática, os pedidos por intervenção militar e uma nova edição do AI5 são corriqueiros. O bolsonarismo sempre testa os limites da democracia brasileira. O episódio mais recente envolveu o deputado federal Daniel Silveira (PSL/RJ), preso por ordem do Supremo Tribunal Federal, após publicação de um vídeo repleto de ameaças aos membros do supremo e a ordem democrática. No vídeo, sobra ódio nas palavras ensaiadas, ataque homofóbico a um dos membros da Corte e afirmações de que os ministros são corruptos. A prisão foi ratificada pelo plenário do STF. Nos próximos dias caberá a Câmara dos Deputados analisar se cassa o mandato do deputado ou se endossa mais uma ruptura à linha democrática.

Episódios como este reforçam a tese da oposição ao defender a existência de um golpe de estado em andamento, principalmente se o atual presidente for rejeitado nas urnas em 2022. Obviamente que as ações autoritárias, as mentiras constantes e a defesa de uma única verdade que o beneficie contribuem para essa tese. Além disso a oposição vê na facilidade de acesso à compra de armas de fogo algo contundente para formação de uma milícia, um grupo paramilitar defensor de um possível golpe. O presidente da república já editou diversas medidas provisórias facilitando a compra e ampliando a quantidade de armas de fogo compradas por civis.
 

Armar a população é prioridade para o presidente da república, ação que revela muito sobre para aonde nosso País caminha. No mundo real já são quase 300 mil vidas perdidas para a Covid-19; a fome e a miséria voltaram com força às manchetes de jornal; o gás de cozinha está sendo dividido no cartão de crédito devido ao preço abusivo; o desemprego bate números recordes a cada período (são mais de 14 milhões de desempregados); e o serviço público é tratado como propriedade privada. As ações e prioridades esclarecem o que vem por aí. A prioridade desse governo é continuar no poder, sob qualquer circunstância, mas será que isso pode mudar?

Bolsonaro se ancora no apoio do exército brasileiro e na elite que domina o poder econômico, podemos afirmar que ele aposta todas as suas fichas que o exército ficará do seu lado se ele encabeçar um golpe de Estado. A pergunta que tantos se fazem é se o exército brasileiro sairá em defesa de um homem que está presidente, ou em defesa da soberania democrática do País.

Assim como em outras instituições, no exército existem forças obscuras fechadas com Bolsonaro, uma parcela que vive de privilégios, apoia quem pagar mais, quem garantir mais leite condensado, mais picanha para o churrasco, cerveja importada e mais goma de mascar capaz de mascarar o hálito fétido da corrupção e da vergonha. Por sorte, ainda há quem queira devolver ao exército brasileiro o lugar de prestígio e de respeito, há quem acredite que seja possível.

Nossa torcida é que seja breve e antes de 2022, uma vez que o presidente se apoia nesse braço do Estado para fazer as barbáries que vem fazendo com o povo brasileiro.

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A coluna Brasilis é publicada sempre às quintas-feiras.
Olá a todos e todas!

Estamos de volta para incomodar mais uma vez vocês com estas mal escritas linhas.



Desde o ano 2000, o Carnaval divide as atenções do público brasileiro com outro evento de forte apelo midiático: o Big Brother Brasil ou, simplesmente, BBB. O reinado de Momo praticamente não ocorreu, muito devido à pandemia da Covid-19.

O reality show, por sua vez, segue a pleno e esta edição, talvez muito por causa da pandemia que faz com que as pessoas fiquem mais tempo em casa, parece estar chamando mais a atenção da população. Alguns diriam que é uma cortina de fumaça para os verdadeiros problemas da sociedade brasileira, no que concordo, porém tem aspectos desta edição que merecem uma reflexão.

O ambiente dos reality shows no estilo BBB permite o surgimento de verdadeiras torcidas que, muitas vezes, parecem não medir esforços no sentido de excluir este ou aquele candidato. No mais recente "Paredão", o humorista gaúcho Nego Di foi eliminado com históricos 98,76% dos votos.

O humorista criou um grupo com outros três participantes que se organizava e planejava votos. Enfim, jogava o jogo. O que fica claro é que as atitudes de todos lá dentro restringem-se, em maior ou menor intensidade, ao jogo, ou seja, o que acontece na casa, fica na casa, parafraseando o filme "A espera de um milagre". O Big Brother parece dividido em micro novelas de sete dias que culminam com a eliminação de um dos participantes. No dia seguinte, tem início um novo capítulo da saga.

Um programa como este pode estimular experiências fascistas, tanto dentro quanto fora do confinamento como quando Lucas Penteado só pôde fazer sua refeição depois de todos os demais participantes e por ordem de Karol Conká. A submissão de Lucas à exigência da rapper curitibana somada a anuência dos demais concebeu a moldura a uma das imagens mais tristes desta edição: a segregação como regra.

O fascismo cresce muitas vezes na ausência de reação daqueles que poderiam ser seus potenciais adversários. Quando se vê, o ovo da serpente chocou e daí...muitas vezes já é tarde. Inúmeras atitudes fascistas tomadas no ambiente do BBB muitas vezes repercutem com força aqui fora. No mais recente Paredão, como já comentei, o humorista Nego Di foi eliminado com um índice inédito de 98,76%.

O maior problema nem foi o índice histórico de rejeição, mas a reação que as tais torcidas do BBB tomam aqui fora. Quando chega-se ao nível de ameaça à familiares do participante é porque perdeu-se o controle sobre as consequências do jogo. É inaceitável que não se perceba que algo de muito grave pode ocorrer logo ali na próxima esquina bastando, para isso, que não atentemos para os sinais que são emitidos. Pode-se perder o controle quando, por exemplo, alguém com milhares de seguidores nas redes sociais faz um um vídeo conclamando a expulsão de determinado membro. A sugestão inicial é de simplesmente votar pela eliminação, porém não se imagina como cada seguidor irá receber aquela mensagem.

Na política brasileira o capítulo mais recente - outra cortina de fumaça no ambiente pandêmico, diriam alguns - diz respeito à prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL/RJ). Depois de publicar vídeos em que criticava fortemente os ministros do STF e defendia a volta do AI-5, o deputado teve sua prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes. É importante que se diga que o mesmo STF foi alvo de sucessivas agressões de uns tempos pra cá, ou alguém esqueceu dos fogos de artifícios jogados sobre o prédio do Tribunal pelos 300, que era na verdade uns 30 ou 40? E a personagem Sara Giromini que, usando nome falso, fez também vídeos com ameaças ao ministro Alexandre de Moraes, que dias depois permitiu que esta ficasse em prisão domiciliar desde que usando tornozeleira eletrônica. Será que os ministros do Supremo Tribunal ainda não se deram conta da real ameaça que está sobre nossas cabeças?

Se bem que esta reação do STF até foi rápida, pois, na média, levam três anos para dar uma resposta além de notas de repúdio, vide o caso do tweet do general.

A pouco foi mantida a prisão do deputado por duas votações que, pelos resultados, não deixam dúvidas: entre os ministros do STF acachapantes 11x0 pela prisão do deputado do PSL/RJ e na Câmara dos Deputados, 364 x 130 contra os interesses de Daniel Silveira  que, desta forma,. permanecerá no confinamento do xilindró.

Algumas perguntas que ficam de tudo isso:

1)Por que os policiais que foram prender o deputado bolsonarista permitiram que ele ainda fizesse um vídeo, enquanto esperavam na sala?

2)Por que o STF demora tanto a reagir aos ataques que sofre frequentemente?

3) A fala do 02 sobre fechar o STF "com um jipe, um cabo e um soldado" até hoje não teve nem nota de repúdio. Se bem, será que já fez três anos?

4) Qual o conteúdo dos celulares encontrados na cela do deputado bolsonarista Daniel Silveira na sede da PF do Rio de Janeiro?

É isso meus amigos e amigas.

Cuidem-se!
Fiquem em casa!
Lutemos pela vacina para Todos e Todas!

Saudações,

Ulisses B. dos Santos.
A humanidade do negro tem sido a grande descoberta do Big Brother Brasil 21, obviamente que essa descoberta está atrelada a quem vive desconectado da luta pelo fim do racismo no Brasil. Observe que, quando um participante branco erra no programa, ele não fala por todo homem ou mulher branca, ele fala como pessoa individual. Quando eles brigam de maneira generalizada, como fazia Felipe Prior na edição passada, ele não fala por toda a comunidade branca, ele não é acusado de ser "desunido”, problemático, doente etc. Por que com a mulher e o homem negro isso é diferente?


O racismo tem várias faces meus amigos, ele ocupa o debate de maneira clara. Acessem o perfil de Karol Conká nas redes sociais, leiam os comentários repletos de ofensas racistas e entenda o que estou falando, combater esse racismo tem a ver com a dignidade humana, discordar dos posicionamentos dos participantes do programa é aceitável, é construtivo, mas usar isso para propagar o racismo infame, não.


Karol é uma mulher negra e, assim como uma mulher branca, tem sua personalidade construída por subjetividades múltiplas. Ela erra e acerta, esses erros e acertos são particulares de cada um lá dentro da casa. O que quero dizer com isso? Karol Conká não fala por toda a comunidade negra, tampouco tem verdades absolutas dentro da casa, no contexto do programa, ela fala por si, como pessoa individual, o mesmo é válido para Negro Di e Projota, eles não falam pela coletividade do povo negro. Algumas falas dos participantes soam como fosse difícil no Brasil ser branco, rico e com carreira bem sucedida, todos nós sabemos que isso não é verdade. Parafraseando o grande rapper brasileiro Emicida, no Brasil "tem pele alva e pele alvo".

No BBB21 existem participantes, falando como se tivessem descoberto a verdade absoluta, não é bem por aí. Primeiro, não existe diálogo quando as duas partes não debatem o assunto, conversam e esclarecem o tema em questão. Quando apenas um fala e o outro escuta, não é um “bate papo" e sim um monólogo. Segundo, e não menos importante, não existem verdades absolutas. Aprendi em minha caminhada a questionar, duvidar, pesquisar e só assim criar uma opinião particular sobre o assunto. Independente de quem esteja afirmando, é sempre bom questionar sobre a verdade colocada em cena.



Mas, por que o BBB21 está revelando para tantas pessoas que o negro tem humanidade? Essa revelação se dá diante dos erros que cada um comete, da discordância do grupo, da opção política, das subjetividades. Basta você observar, por exemplo, Lucas Penteado, Karol Conká e Negro Di, são pessoas diferentes, com opiniões e posicionamentos diferentes. Isso acontece exatamente devido a sua humanidade, eles são singulares, com todo homem e mulher branca. Parece óbvio né? Mas não é.

Imagine se acontecesse em nossa contemporaneidade, um novo episódio de tráfico de pessoas para fins de escravidão, mas não vindo do Continente Africano, dessa vez da Europa.

Primeiro saiba que a África não é um país, ela é um continente, assim como a Europa tem vários países (Portugal, Reino Unido, Itália, Franca etc.), o Continente Africano também tem.

Voltando ao nosso exemplo fictício. Desta vez foram sequestrados Portugueses, Franceses, Ingleses e Italianos. Ao chegarem ao Brasil, eles não puderam falar sua língua de origem, tiveram seus nomes trocados e foram racializados. Aos olhos da sociedade escravocrata brasileira, eles eram uma “coisa”, um “objeto” uma “posse”, a opinião de um era a de todos, a fé já não importava, foi demonizada. Esse apagamento social era para coisificar e objetificar, isso aconteceu por pelo menos 350 anos.

Foi exatamente isso o que aconteceu com o negro, sequestrado da África e escravizado no Brasil. O Continente Africano possui 54 países, só na África Ocidental temos Nigéria, Mali, Senegal, Mauritânia, Gana, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné, Libéria, Serra Leoa entre outros. O continente é composto por diversas etnias a exemplo dos Bantos e Sudaneses. Além das religiões ancestrais, há forte presença do cristianismo, do islamismo e do judaísmo, riquezas materiais e imateriais incalculáveis.

Entender parte dessa história nos faz enxergar como foi perversa a construção da imagem do negro no Brasil, saíram do Continente Africano com sua riqueza cultural, linguística e religiosa, para serem definidos como um corpo só, sem particularidades, sem multiplicidades, colocados como não humanos.

A luta por direitos e respeito do povo Preto é ancestral, vem de antes da “juventude” que ocupa o BBB21, cada negro que está dentro da casa só ocupa aquele espaço graças às lutas de muitos que vieram antes deles, personalidades como Zumbi dos Palmares, Dandara de Palmares, Tereza Benguela, Lélia Gonzales, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Sueli Carneiro, Milton Santos, Abdias Nascimento e tantos outros não menos importantes.

Discordar, gostar ou querer que o participante deixe a casa é natural, faz parte do jogo, mas tudo isso deve ser conduzido com respeito e dignidade.

A imagem social que temos do negro foi construída por quase quatro séculos de escravidão, desconstruir essa imagem de povo único sem particularidades, direitos e desejos não é e nem será fácil.

O racismo no Brasil é forte, mas tem sido quebrado. Cada um de nós devemos nos comprometer com isso.


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A coluna Brasilis é publicada sempre às quintas-feiras.
Muito se discute sobre a interferência urbana em estátuas e monumentos, mas já pararam para se perguntar o motivo dela ocorrer? Hoje em dia o principal público de museus é o escolar, são raríssimas exceções os que não apresentam esse tipo de público como sua parcela maior de visitantes. São jovens e crianças que algumas vezes frequentam museus na primeira etapa da vida. Porém, a desigualdade é presente e nem todos tem essa educação sobre o patrimônio.


Eu estudei minha vida toda em escolas públicas e fui apenas duas vezes em museus durante todo meu estudo e sempre o mesmo, mal sabia que Porto Alegre tinha mais de cinquenta museus, ou que o Rio Grande do Sul é um dos estados com mais museus no Brasil, isso tudo fui descobrir na faculdade de Museologia. Portanto, que ligação patrimonial eu teria com a cidade se não tivesse sido educado sobre ela?

Sei que o tema é delicado, mas me coloco no lugar de um jovem sem noções sobre o patrimônio, que ligação ele teria com um estatua de um general do Século XIX? É quase uma incoerência cobrar de alguém com pouco acesso ou que não consegue se expressar ter cuidado com objetos da elite ou que celebram conquistas desconhecidas para muitos. Um exemplo é o centro de Porto Alegre, ao andar hoje por lá percebo cada canto histórico que ele tem, foram várias aulas que tive nele, até mesmo sei que um museu de percurso corta o centro da capital, mas e todas as pessoas que andam por lá, será que sabem?

Acredito que antes de discutir a pichação ou qualquer forma de degradação ao patrimônio deveríamos discutir como e o motivo que ocorre isso, deveríamos ir na base da questão, levar o conhecimento para as crianças e também questionar os patrimônios que temos, são todos eles válidos? Devem todos ser preservados? Me questiono sobre isso, e como exemplo utilizo as estátuas de grandes figuras escravagistas, essas merecem destaque em grandes avenidas? Não vejo motivo em uma sociedade que tanto busca evoluir, mas não olha ao redor ou o seu passado.

Fonte: https://wsimag.com/pt/cultura/648-feira-do-livro-de-porto-alegre

Não busco a destruição ou apagar a história, acredito que toda história deve ser conservada, porém o principal sobre o passado deve ser a problematização e não a celebração. Devemos ter uma educação para o povo sobre o que está no seu cotidiano, não basta apenas uma parcela da população saber o que uma alegoria significa em um monumento, toda a população deve questionar a origem dela.

Porto Alegre é só mais um exemplo, mas acredito que em todas cidades do país temos isso, o busto de um homem que poucos conhecem, e ainda é menor o número dos que se importam. Apenas a educação mudará, seja para retirar um monumento e expor apenas em museus ou para conservar e reconhecer a importância, o patrimônio, seja ela qual for, deve em primeiro lugar ser conhecido e assim será preservado.

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A coluna O Mundo é um Museu é publicada sempre às sextas-feiras.

Um dos pilares da Museologia é a conservação, esse ato acontece através de medidas que visam impedir a degradação do acervo. São práticas como controle de temperatura, higienização e acondicionamento que tem como objetivo retardar o desgaste de um objeto. Isso acontece e é praticado em vários museus. Inclusive eu já trabalhei com isso por alguns anos somados meu período como estagiário e no mercado profissional. Um tema bastante discutido é sobre o limite de conservação e como ela é feita?


Veja bem, claro que todos museólogos querem que um acervo dure o máximo possível, mas é de conhecimento de quase todos estudantes de Museologia alguns erros que aconteceram ao longo dos tempos. São peças têxteis que foram dobradas ou até mesmo lavadas, são objetos de metal que foram descaracterizados após o uso de produtos químicos, são diversos exemplos que são estudados de como não fazer.

Em 2018 eu fiz uma viagem com a turma de Museologia da UFRGS, fomos ao Rio de Janeiro, lá fomos apresentados aos diversos museus que fazem parte da capital carioca e também da cidade de Petrópolis. Algo que me gerou a dúvida sobre o limite da conservação foi a forma como os museus de diferentes tipologias tratavam o acervo. Eu mesmo adotei ao longo da minha vida acadêmica e profissional meu limite particular que com alguns estudos e cursos foram comprovados como de melhor utilização.

O texto de hoje pode servir como dica para você colecionador que queira manter por mais tempo seus objetos em sua casa, a minha dica é não interfira no objeto. Veja bem, eu sei que uma peça de metal lustrada e brilhante pode ser atrativa para visitantes, mas onde fica o caráter histórico da peça? Um prato de metal, com manchas e marcas de uso pode ser lavado? Claro que sim, numa instituição de museu? Claro que não. O objeto com trinta, cinquenta anos após ser lavado e adulterado em relação ao seu estado terá que história para contar? Um objeto em um museu não deve ser apenas um objeto, ele é uma parte da história, seja com características bonitas ou não. Veja bem, não defendo o uso de objetos destruídos ou sem a higiene básica, um acervo deve ter seu tratamento adequado, porém sou totalmente contra as intervenções estéticas nele.

Fonte: https://www.sisemsp.org.br/museu-da-imigracao-realiza-trabalho-de-conservacao-preventiva-de-seu-acervo-fotografico/


Ainda assim, temos uma outra área para refletir, o restauro, essa área pouco sei e deixo específico para os profissionais formados nela essa discussão. Ser um restaurador(a) requer muito trabalho e também noções sobre o que deve ou não ser feito. Essa prática tem uma ética, ao restaurar o acervo existe todo um registro sobre aquele objeto que não será mais o mesmo e uma nova etapa se inicia para ele, carregando as marcas do restauro e as anteriores.

O tema que escrevi é bastante reflexivo para aqueles que assim como eu adoram o trabalho junto com acervos e coleções, qual o limite que devemos ter e os cuidados que precisamos tomar na hora de conservar um acervo? A coluna é pequena para tamanha discussão, mas vale a pena lembrar o que faz um objeto um acervo? O simples fato de ser único ou toda história que carrega? Eu fico com a segunda opção.


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