Senador que ameaça
matar o primo sai ileso e volta ao trabalho. Presidente que dá tudo para manter
o status quo segue para plenário confiante e portaria desconsidera trabalho
análogo à escravidão. Voltamos quanto tempo na ordem histórica das coisas?
Mesmo submetida ao governo bandeirante, a TV Cultura é fonte inesgotável de
conhecimento. Não é de hoje que ela honra seu nome mesmo com muitos percalços –
boicote mesmo. Em tempos áureos, numa animação rústica, bem primitiva, ela
preparava uma sala de piso quadriculado nas cores azul “bebê” e azul escuro,
teto amarelo e paredes em degrade das cores azul e verde, para a chegada de um
sofá que batia na porta como pedindo para entrar e que trazia sobre si um garoto
deitado que, convocado por um “senta que
lá vem história” por uma daquelas vozes firmes próprias de locutores,
logo sentava, seguido por trombetas anunciado o inicio da série de contos do
programa Rá Tim Bum.
Distante do encantamento dos contos trazidos pelo eterno Rá Tim Bum – que ainda tinha entre suas
estrelas o âncora mais elegante da TV brasileira -, as histórias, e não
estórias, da política brasileira podem parecer ser as mesmas, mas com a
contribuição maciça da classe política podemos pedir ao leitor, ou seja você,
que também sente que “lá vem história”, e não é repetida.
Vídeo: Youtube
Aécio. O senador
Aécio Neves (PSDB-MG), mineirinho na lista da Odebrecht (clique!), aquela que
ninguém sabe por onde anda – talvez tenha caído no tradicional esquecimento dos
corredores da Suprema Corte -, gravado pelo empresário, preso, Joesley Batista,
da JBS, pedindo a ele R$ 2 milhões que,
sim, seria mesmo usado para o pagamento de honorários de sua defesa, mas não
como empréstimo e sim propina, e que enviaria seu primo, o Fred, não o “chefe
da área” do Clube Atlético Mineiro, mas aquele “que a gente mata ele [o Fred] antes de fazer delação”, que faria a vez de office boy e transportaria a quantia para o senador (clique!), saiu ileso
e voltou aos trabalhos na Casa mais pomposa depois do STF, o Senado Federal.
Aécio ganhou de seus pares, por 44 votos a 26, o retorno ao
trabalho no Senado após a decisão, branda, dos ministros do STF em aplicar neste
caso, em que um senador da República pede pagamento de propina a um empresário,
o corrupto Joesley Batista, e diz que mataria o primo, ou seja, cometeria homicídio
doloso, a decisão de impedir que ele saísse após as 22 horas e que não poderia
exercer seu ofício enquanto senador. A
decisão, ainda que branda da primeira turma do STF, foi tomada depois que a Comissão
de Ética do Senado realizou uma dita “análise” sobre o caso e, sob forte “espírito
de porco”, arquivou o pedido de afastamento do senador, por conta do áudio. Houve
senadores que, usando dos microfones do Senado, garantiram que caberia ao STF
decidir sobre o caso.
Quando o caso chegou à Suprema Corte, o colegiado da
primeira turma de ministros decidiu, por incríveis 3 votos a 2 – não entendo
como as Leis podem ser tão difíceis de ser interpretadas e como as decisões
recentes do STF têm sido tão apertadas, quando os casos parecem ser de decisões
óbvias e merecedoras de unanimidade -,
pela reclusão de Aécio após às 22 horas e a suspensão de seu mandato. A
decisão da primeira turma não foi aceita, nem mesmo, pelos outros ministros da
Corte que também quiseram se debruçar sobre o assunto – também conhecido como ceder
forças para ajudar um parceiro, aqui Aécio – e debateram a situação no
plenário.
A decisão do colegiado reunido, os 11 ministros da Corte,
foi mais uma vez apertada e, pior, não sabe-se por que. Dessa vez, o placar
ficou em 6 votos a 5 favoráveis a permitir que a Casa Legislativa
correspondente ao parlamentar julgado pelo STF valide ou não a decisão dos
ministros, os ditos “guardiões da Constituição”.
O caso de Aécio Neves, muito parecido com o do também
senador, com a diferença de ser petista, Delcídio do Amaral, preso e de mandato
cassado, em 2015, voltou ao Senado Federal, onde foi apreciado e derrubado
pelos senadores.
Aécio Neves está de volta ao seu cargo, mesmo tendo falado a
todo o País que precisava de R$ 2 milhões de um empresário, hoje preso, e que
mataria seu primo, se preciso. Isso, além dos 9 inquéritos que ele responde no
STF. Quando o ex-senador e trambiqueiro
Sergio Machado falou para o senador e líder do (des)governo no Senado, Romero
Jucá (PMDB-RR), em mais uma das gravações, antes mesmo do advento da produtora “Joesley
Gravações”, que seria “com o STF, com
tudo” , naquela conversa que ainda mostravam-se preocupados com a operações
de investigação e que seria preciso “estancar
a sangria”, não imaginávamos que seria bem isso mesmo.
Lembrando que o ex-procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, hoje descansando, enquanto disparava suas derradeiras “flechadas”,
aproveitou o alvoroço sobre as denúncias e arquivou o processo que investigava
as irregularidades trazidas por esse áudio de Sérgio Machado e Romero Jucá.
Denúncia. Falando
em denúncia, o presidente Michel Temer, único duas vezes denunciados por crimes comuns – corrupção passiva, obstrução à Justiça e formação de organização criminosa (quadrilha) de nossa história (clique!), vem trabalhando intensamente para
tentar barrar mais uma denúncia contra ele. Temer, agora denunciado por ter liderado
esquema de desvios em empresas estatais – as mesmas que ele diz ter déficit e
que por isso precisam ser privatizadas- e compra de votos por projetos
aprovados no Congresso Nacional, curiosamente, mantém o modus operandi e continua
comprando votos contrários à admissibilidade da denúncia na Câmara, usando-se
de emendas parlamentares e indicações políticas em empresas estatais que,
certamente, gerarão ainda mais déficit em suas contas.
Se na primeira denúncia por crime de corrupção passiva, o
presidente não hesitou em anistiar dívidas da banca ruralista, mais de 220 deputados,
e reduziu o percentual de contribuição do FUNRURAL (clique!), fundo para o pagamento de
seguridades para trabalhadores rurais, diminuindo os valores de benefícios destinados
a essa classe, dessa vez, Temer focou em outra antiga reivindicação dos
ruralistas: a fragilização das normas de combate ao trabalho escravo.
O presidente está tão desesperado que vai assinando coisas
sem ler. Na mais recente gafe, das muitas, ele autorizou uma portaria que
dificulta a fiscalização de trabalhos análogos à escravidão, talvez sabendo da
ideia e gostando dela também, mas sem ter lido o conteúdo enviado pelo ministro
do Trabalho, Ronaldo Nogueira.
A portaria do Ministério do Trabalho - o mesmo que
precarizou as relações trabalhistas com a dita reforma trabalhista e a
terceirização irrestrita que começarão a valer a partir do próximo mês- autorizou
inúmeras alterações na definição de trabalho análogo à escravidão e na lista de
empregadores que, em algum momento, foram pegos explorando a força de trabalho
de pessoas. Ela, na prática, dificultou ainda
mais o combate àquilo que, independente de ideologia, é condenável e apenas atrasa
o desenvolvimento do País.
País este que, sem precisar das alterações da portaria, já
válidas, de Temer e Ronaldo Nogueira – bom dar nome aos responsáveis -,
deputado eleito pelo estado do Rio Grande do Sul e ministro do Trabalho, carrega
o peso de ter sido o primeiro, e por enquanto o único, país das Américas
condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, submetida a
Organização dos Estados Americanos, a OEA, a pagar US$ 5 milhões em
indenizações a 128 trabalhadores explorados no sul do Pará, entre os anos de
1997 e 2000, no caso dos “Trabalhadores
da Fazenda Brasil Verde”. A decisão
foi tomada no fim do ano passado. Essas pessoas fazem parte de um grupo ainda
maior, de cerca 300 resgatadas entre 1989 e 2002 na fazenda “Brasil Verde”.
A ideia de Temer é ter ainda mais apoio na votação da
denúncia por obstrução à Justiça e formação de organização criminosa
(quadrilha) contra ele, marcada para a próxima quarta-feira (25), com
transmissão da “Platinada”, e para isso, se preciso, também não hesita em
sacrificar os já sacrificados trabalhadores submetidos a condições desumanas de
trabalho e que só estão “nessa” porque há pessoas como Elias, o Temer, no poder (clique!).
Quando pensávamos que os ataques pelo arquivamento dessa
segunda denúncia resumia-se aos brasileiros explorados dos rincões do Brasil,
já que nos grandes centros urbanos as concentrações de “escravos” são, na
maioria, imigrantes e, não diferente, o Estado brasileiro também faz vista
grossa, o (des)governo teve de ceder mais uma vez para a bancada ruralista e converteu
multas ambientais, que juntas somam R$ 4 bilhões aos cofres públicos, em
prestação de serviços.
No popular, Temer “não ponto sem nó”. Em uma semana, Temer
condescendeu ao trabalho escravo no Brasil e trocou R$ 4 bilhões, quantia
relativamente importante para um (des)governo que quer enfiar goela abaixo
reformas de austeridade, em serviços como o reflorestamento de áreas degradadas
que, certamente, serão feitos pelos “escravizados”, agora autorizados, de
Temer.
É um verdadeiro festival de ações próprias de outros períodos
da história. A única certeza que tenho é que, enquanto (des)governo, já não
pertencemos a este século. Deixamos de trilhar o caminho do futuro há um tempo,
e, para alguns, a culpa é do articulista que é pessimista e só escreve mal
sobre o (des)governo. Desculpa, mas o (des)governo não dá brecha.
Assim
como aceitamos ( e precisamos) críticas e sugestões, por isso a
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Haja história e haja inércia popular...
ResponderExcluirHaja mesmo!
ExcluirMesmo com a turma global tentando emplacar Rodrigo Maia, o povo parece não ter comprado a ideia e o tinhoso seguirá até dezembro do próximo ano. Resta saber, com muita preocupação, para quem ele passará a faixa presidencial.