No deserto de políticas públicas, congressistas prometem mais um arquivamento e aprovam normas para a nossa próxima participação democrática, as próximas eleições.


Com a decisão dos ministros do STF, com exceção de Gilmar Mendes, em permitir o óbvio e constitucional envio da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer à Câmara dos deputados, onde os parlamentares decidirão sobre a abertura de investigação contra o presidente, a vida política do País, já muito conturbada, suscitará dias quentes e mais uma chance de um possível despertar popular. Trata-se de um presidente denunciado por crime comum, a tal corrupção outrora combatida por milhões, inclusive com intensa participação nas ruas.
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)


A denúncia desta vez, além de baseada em delações, de Joesley Batista, dono da JBS, e Lúcio Funaro, operador financeiro do PMDB, também apresenta provas contundentes de um esquema de desvios que giraram em trono de R$ 587 milhões captados pelo “Quadrilhão do PMDB”, formado pelo presidente Temer, os ex-deputados Eduardo Cunha e Rodrigo Rocha Loures, os ex-ministros Henrique Eduardo Alves e Geddel Vieira Lima, e os ministros de Estado Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria da Presidência. Juntos, segundo o ex-procurador da República, Rodrigo Janot, eles instauraram uma organização criminosa em 2006 e vinha, como sanguessugas, explorando os rendimentos de empresas estatais até ano passado, pouco antes da conclusão do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.


O pacote enviado à Câmara dos deputados, uma denúncia com dois crimes específicos, um por obstrução à Justiça e outro por formação de organização criminosa, aliás, a denúncia apresenta Temer como líder dessa organização, devido a sua forte influência na classe política, já está nas mãos dos deputados e deve iniciar sua tramitação na próxima semana. 
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Diferente da primeira denúncia por corrupção passiva, arquivada pelos deputados em agosto, esta, agora, traz números substanciais que vão da quantidade de denunciados aos valores capitalizados por eles. Se houver, realmente, opinião pública preocupada com a probidade administrativa na Máquina Pública, sem laços partidários, o montante de mais de 260 páginas enviado por Janot é “prato cheio” para “panelaço”, manifestação de rua ou pressão sobre os parlamentares. 


Sem esperança de que isso acontecerá, a imprensa trata o arquivamento dessa denúncia como favas contadas. E mais, isso não exigirá muito do presidente, já que os integrantes da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, responsável pelo relatório, contra ou a favor do encaminhamento da denúncia de volta ao STF, são os mesmos que aprovaram o relatório pedindo o arquivamento da primeira denúncia. Temer, desta vez, não precisará se desdobrar com liberação de emendas parlamentares ou “superdescontos”- quase anistia - para dívidas, como a dos ruralistas no FUNRURAL (clique!)
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Efeito prático só com pressão e participação popular. Da mesma forma que, para imprensa e Congresso, a denúncia já está determinada ao arquivamento, para nós, meros brasileirinhos, é mais uma oportunidade para mudar.


Enquanto isso, na ONU...


O presidente máster em mesóclises e denunciado participou, mais uma vez, como figura protocolar da reunião geral da ONU. Protocolar para a versão século XXI da “Operação Condor”.  Como manda a tradição, nosso chefe de Estado discursou na abertura da reunião de líderes mundiais e, acredite, nada mais fez. 
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Além do discurso, onde falava de um Brasil sem crise e preocupado com a Amazônia, Temer suou em entrevista a Reuters, porque não perguntavam outra coisa que não fosse as recentes denúncias contra ele, e assinou um tratado que impede países de produzir armas nucleares, ou melhor, proíbe o desenvolvimento de tecnologia atômica.   


Curiosamente, os países mais desenvolvidos, os de fato “líderes mundiais”, têm seus arsenais de armas nucleares. O Brasil, até recentemente, desenvolvia submarinos nucleares, em parceria com a França, para a proteção do pré-sal e da chamada “Amazônia azul”, a costa brasileira. Com a assinatura do acordo, o Brasil abre mão do mecanismo que, para nós, seria utilizado para a proteção de bens naturais, alvo de interesse – especulação – de muitos outros países. 


No Congresso


Os deputados e senadores, quando não estão discutindo “cura gay”, proibição irrestrita de direitos como o aborto a mulheres violentadas sexualmente ou retirada de direitos trabalhistas, eles estão aprovando mudanças, sem muito efeito prático quanto a renovação, no sistema eleitoral.


O Congresso conseguiu, depois de muita articulação, aprovar uma “reforma política” padrão (des)governo Temer.  Os deputados ressuscitaram uma cláusula de barreira para os partidos extinguiram as coligações para as eleições a partir de 2020, pela Proposta de Emenda a Constituição 282/2016. A PEC foi aprovada em dois turnos na Câmara e segue para o Senado, onde também precisa passar por duas votações em plenário. 


Quanto ao fundo público para as campanhas, os senadores estão discutindo propostas que, quando aprovadas, serão enviadas para a Câmara para a aprovação e entrar em vigor. Há proposta do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que fala em remanejar os valores pagos pelas propagandas partidárias fora de período partidário para o fundo de financiamento das campanhas, e o projeto do senador Romero Jucá em, também, remanejar subsídios das propagandas no Rádio e TV, somados a parte das emendas parlamentares para a configuração do fundo.   


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Claudio Porto

Jornalista independente.

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