O século XX não tinha chegado, nem mesmo, a sua metade quando
os mineiros irmãos Naves tiveram que pagar por algo que não fizeram. Se o
senador fosse “Naves” e não “Neves”, talvez, as coisas seriam diferentes.
A dita Justiça brasileira, ainda no século XX, ali no final
da década de 1930, protagonizou aquele que com o tempo seria um dos maiores
casos de erro judiciário, a punição de dois irmãos, os irmãos Sebastião Naves e
Joaquim Naves, por suposto crime de homicídio contra o primo e sócio deles,
Benedito Pereira Caetano, que fugiu com 90 contos de réis – equivalente a R$ 270
mil – da venda de grãos de arroz que pertenciam a sociedade mantida por eles.
Os irmãos Naves eram de Araguari, nos rincões das Minas Gerais, e,
ingenuamente, foram à delegacia dar cabo do sumiço de Benedito. As investigações foram iniciadas por um
delegado, mas, por se tratar do início do Estado Novo, em 1937, houve a troca de todos os delegados
por tenentes do exército, e eis que Araguari recebe o tenente Francisco Vieira
dos Santos, o “Chico Vieira”, que deu sequência as investigações a base de
torturas e maus-tratos, incluindo aos familiares dos Naves, obcecado de que os irmãos
teriam assassinado Benedito por conta do dinheiro.
Os irmãos Naves passaram
por dois tribunais do Júri, foram absolvidos em ambos, mas, por força da “Lei”,
depois de pedido do Ministério Público, acompanhado pelo advogado que defendia
os interesses dos familiares de Benedito, os irmãos seguiram presos até a condenação do
Tribunal de Justiça do estado de Minas Gerais, em meados de 1938. Eles foram condenados a 25 anos
de reclusão, mas com oito anos de prisão, por conta de comportamento exemplar, deixaram
o encarceramento. Joaquim Naves conseguiu sobreviver por mais dois anos até sua
morte em 1948, em um asilo onde tratava dos problemas de saúde causados pelas
torturas sofridas. Sebastião Naves seguiu em busca da verdade, e encontrou, já
em 1952, Benedito escondido na casa dos pais, em Nova Ponte, região próxima a
Araguari. Benedito não foi incriminado e disse que não sabia do imbróglio
envolvendo os Naves. Ele teria fugido com o dinheiro por causa de dívidas que mantinha com
os comerciantes de Araguari, em torno de 136 contos de réis – equivalente a R$ 408 mil.
Oitenta anos depois, o “Neves”, senador Aécio Neves, foi condenado
a não sair de casa após as 22 horas. Gravado pedindo R$ 2 milhões ao preso
Joesley Batista, da J&F, e
armando a morte do primo, o “Fred”, encarregado pelo transporte do dinheiro, Aécio Neves foi afastado de
seu mandato, não poderá mais sair de sua residência após as 22 horas e também não poderá manter contatos com outros investigados.
A
branda decisão foi tomada pela Suprema Corte da mesma “Justiça” que condenou injustamente os
“Naves” no passado e que, no caso de Aécio, recusou o pedido da Procuradoria-Geral da República em prendê-lo. E olha que Aécio responde por 9 inquéritos nesta mesma Corte.
No áudio que todo o País ouviu e o levou a essa situação, o
senador pede a quantia de R$ 2 milhões para o preso Joesley Batista, o mesmo
que gravou o presidente, para pagar os honorários de sua defesa e diz que Fred,
seu primo, é o melhor nome para se encarregar no transporte dos valores. “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o
Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de
lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho”.
A
irmã do senador Aécio Neves, Andrea Neves, chegou a ser presa, mas já se
encontra em regime domiciliar. Andrea passou 34 dias presa até a alteração para
regime domiciliar, entre maio e junho passados.
Os
senadores já trabalham para reverter à decisão do STF e manter Aécio em seu
cargo, já que ele é uma peça importante à frente das negociatas no Congresso
Nacional. Numa espécie de novo Eduardo Cunha, ele andava intervindo no “Centrão”
da Câmara e no racha do seu partido, o PSDB, para que as pautas do Planalto transitassem com
facilidade pelo Congresso, em particular, as denúncias contra o presidente Temer.
Por sinal, o presidente está encabeçando um movimento para que os senadores tomem providências contra o afastamento do tucano.Ele tem mobilizado os senadores para contestar se cabe ou não ao Supremo Tribunal afastar um senador.
Assim
como os irmãos Naves, os irmãos Neves também são mineirinhos. A diferença é que
os “Naves” não traziam consigo o peso de influência dos “Neves”.
A justiça que protagoniza injustiças como no caso dos Naves, e não dos
Neves, e bizarrices como arrolar capoteiro, também mineiro, como sendo
banqueiro (Vídeo Abaixo), ainda não
consegue cumprir seu papel de ser “igual para todos”. Talvez Orwell estivesse certo
em dizer que há “alguns mais iguais que
os outros”. E, neste caso, os mais “iguais” são os de vogal única, “iguais”,
os Neves.
Vídeo: Youtube / Canal Pirambu Play
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