Sentidos apurados,
vimos e ouvimos numa semana tudo o que, em qualquer outra parte do mundo, faria
mudar
Sentir, para os filósofos, é viver. O ser existe porque
sente, e vice-versa. É o velho uso da metáfora que traz a “via de mão dupla”
como personificação da vida e da “ação e reação” da Terceira Lei de Newton ou
da obra de Chico Xavier. Assim que implodiu os áudios das gravações feitas por Joesley
Batista - empresário da mesma classe que para o neoliberal soluciona problemas
-, elucidando as negociatas entre figuras públicas e a classe empresarial, os
sentidos do brasileiro, especialmente a visão e audição, se confundiram ainda
mais, e o resultado não poderia ter sido pior: uma condenação prematura de tudo
e um desprendimento do que se conhece por política. O povo, desta vez, não
sentiu.
Os áudios gravados por Joesley Batista no subsolo do Palácio do Jaburu, que levaram a denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer, voltaram à tona nesta semana com partes omitidas pelos delatores,
naquele acordo que absolveu os irmãos batistas. Nas 4 horas de gravação
entregues ao Ministério Público pela defesa de Joesley Batista, há a conversa
dele com o ex-diretor da J&F, também investigado pela operação Lava Jato,
Ricardo Saud, onde explicitam o sentimento de apropriação, por parte deles, sobre
os principais representantes daquilo que consideramos instituições de Estado. Ele
deixa muito claro onde nos levou toda a exacerbação de tomada de empréstimos,
entre outros vínculos, intermediada por figuras dita públicas e o setor
empresarial. Como ele mesmo autodenominou-se, em um dos trechos da gravação, era
o “professor” na “escola” que políticos acreditavam ser o destaque.
A classe política ouriçou-se com a possibilidade, já negada
pelo Ministério Público e reforçada pelo STF, de anular as ações provenientes das
gravações, incluindo a denúncia por corrupção passiva contra o presidente
Michel Temer. Eles acreditam que houve um desgaste do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, diante da opinião pública, por conta do acordo selado
entre o Ministério Público e os delatores que, à época, se mostraram
arrependidos e saíram, especialmente Joesley Batista, a dar entrevistas como
sendo “justiceiro” e apenas uma peça corrompida pela politicagem ensinada e
praticada, curiosamente, na escola em que ele se diz o “professor”.
Todo este alvoroço porque, nas gravações, Joesley Batista e
Ricardo Saud citam o ex-procurador da República Marcelo Miller e alguns
ministros do STF, o Jurídico dos poderes teve, assim como o Legislativo e
Executivo, sua reputação embriagada pelo Batista. Aliás, em depoimento,
justificação – embriaguez – dada por Joesley às situações contidas na gravação.
O Congresso trabalha sem se ater aos fatos e, mesmo com a
turbulência, aprovou em 1º turno o texto principal de uma reforma política “padrão
(des)governo de qualidade”. Com a aprovação, na terça (5), os deputados ressuscitam
a cláusula de barreira – discutida e aprovada em 1996 - para delimitar os
valores repassados ao fundo partidário a partir de um número mínimo de eleitos
por cada partido, e o fim de coligações como as que conhecemos hoje - várias
siglas se unindo por tempo de TV e Rádio -, que será substituída pela proposta que
cria “federações” com o mesmo objetivo, a valorização do tempo de propaganda
partidária em cadeia de Rádio e TV, com a diferença, por enquanto, de obrigar a
permanência dos partidos nas “federações” por todo o mandato. Seria um antídoto
para o fisiologismo? Acredito que não. Continuaríamos com chapas desconexas
como aquelas formadas por partidos dito “comunistas” e partidos dito “cristãos”.
Chapas que só contribuem para encarnações fisiológicas como
Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração do governo Lula, ex-ministro de
Secretaria de Governo de Temer e vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa
Econômica Federal, preso esta semana após a Polícia Federal encontrar R$ 51
milhões, em espécie, ligados a ele em um apartamento em Salvador, na Bahia.
Tinha tanto no “bucker”
Geddel Vieira Lima deixou o (des)governo Temer quando suas desavenças com o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, envolvendo a construção de um condomínio de luxo na orla de Salvador foram ao ar, pela imprensa, também
através de gravações. À época, Marcelo Calero tinha gravado uma conversa em que
Geddel exigia dele, facilitações do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, o IPHAN, vinculado ao ministério da Cultura, que tinha
barrado a construção do condomínio La Vue,
em Salvador, onde Geddel tinha comprado um apartamento.
Ele deixou o (des)governo, mas não abriu mão das suas
expertises como interlocutor perpétuo das negociatas. Como as investigações não andaram - e pouco
foi feito a respeito-, Geddel Vieira Lima seguiu para Salvador onde continuou
suas tratativas obscuras até ser pego, pela Polícia Federal, no início de
julho, quando o Ministério Público mandou prende-lo preventivamente por estar
agindo, usando-se de suas artimanhas políticas, para impedir uma delação
premiada do ex-deputado federal Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro.
De acordo com o Ministério Público, ele estava atrapalhando
uma possível delação de peças estratégicas como Funaro e Cunha, para evitar constrangimentos
como a descoberta do “bunker” com R$ 51 milhões em espécie, esta semana.
Curiosamente, Geddel realizava todas as suas intervenções no
mundo político de seu apartamento, em Salvador, como preso domiciliar, vale
destacar, sem tornozeleira eletrônica. E só voltou para prisão em regime
fechado por conta da descoberta feita pela PF. Caso contrário, estaria hoje sem
ter sido mencionado em tags nas redes sociais, e com sua “bolada” a pagar os
muitos “cafezinhos”.
Na onda de “bunker”, imaginem ter um para espairecermos do
mundo político brasileiro. Como não o temos, acredito, seria interessante regularmos
nossos sentidos, após o tsunami de informações, para apurar e digerir todas estas
tentativas de uma democracia sem povo. Não podemos, mais uma vez, deixar passar
como se não expressassem nada e como se já tivessem tomado o espaço do comum em
nossas linhas de pensamento.
Assim
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