MBL substitui IPES, o
brasileiro participa em partes e o comando segue nas mãos dos mesmos
Era 31 de março de 1964 quando a intensa influência dos EUA,
ou seja, um lado da história, consumou a alteração na rota do cargueiro
brasileiro. A rota, ali, ganhava a direção que conhecemos hoje. O olhar se
verticalizou e aprendemos inglês, alimentamos nossas vontades com o senhor “Donald”
e o seu “burger”, e sonhamos com o parque de diversão e o mundo criado por um rato
metamórfico, que fala.
A passagem, conturbada, entre os meses de março e abril de
1964, foi todo elaborado e desenhado por interesses empresariais que, hoje
comprovado por documentos, temiam o avanço dos ideais socialistas tecidos por
Karl Marx e Friedrich Engels, um século antes. Com a colaboração da ação
popular convocada pelo “Brasil precisa de
você” da propaganda anticomunista do MBL da época, o Instituto de Pesquisa e
Estudos Sociais (IPES), o musical sórdido aniquilou dois presidentes, Jânio e
Jango, para a sustentação daquilo que seria a solução do mundo pós-2ª Guerra, o
neoliberalismo.
Na onda dos remakes, mais de meio século depois, o enredo
amarrado em 1985 com as Diretas Já
voltou as telas, agora não só da tevê, invadiu as redes sociais, mas curiosamente
nada acontece.
Desde sua chegada à Presidência da República, Michel Temer não
se intimidou em assumir que chegava para retomar o crescimento e colocar o País
novamente nos trilhos. Crescimento e trilhos semelhantes, se não forem os
mesmos, aos da década de 1960. Temer, sua equipe ministerial e o Congresso
Nacional, em pouco mais de um ano, mostraram que facilitar (em alguns casos
isentar) o pagamento de dividas indiscriminadamente, desde que se apresente o
CNPJ, enquanto se reduz direitos, foi a maneira encontrada para driblar, por
ora, a tal crise financeira.
Ao contrário do povo, que não comprou a ideia do neoliberalismo
muito menos a mala do ex-deputado, hoje em prisão domiciliar, Rodrigo Rocha
Loures, o Governo Federal comprou a ideologia empresarial e luta por ela. Prova
disso, a reforma trabalhista passou por todas as fases no Congresso, alterou
mais de 100 artigos da CLT sob o argumento de que precisavam passar por modernização
e, em alguns discursos mais bestiais (a tônica do atual desgoverno), atribuiu-se
a culpa da elevada taxa de desemprego a seguridade social trazida pelos
direitos trabalhistas. As mudanças foram sancionadas e, já a partir de 14 de
novembro, o empregador, “aquele que dá emprego” e “que move o Brasil”, estará
livre para negociar com o seu empregado. Nesta ordem mesmo. Com o empregador sempre à
frente.
Antes mesmo das alterações na CLT, o presidente, aportado
por sua equipe ministerial e o Congresso Nacional, limitou o orçamento público
em busca de mais confiança do tal mercado financeiro. Este mercado, sem
trocadilho, comprou o “limite dos gastos” com o propósito de, assim como nas
décadas 1960 e 1970, reduzir o Estado, enquanto máquina de distribuição de renda,
e, com o caminho livre, promover suas soluções nada sociais. Para isso, Temer
sucateou bancos públicos com Programas de Demissões Voluntárias no Banco do
Brasil e, agora no pós-saque do inativo, Caixa Econômica Federal. Através do
Conselho Administrativo de Recursos Federais (CARF), órgão submetido ao
Ministério da Fazenda, isentou R$ 25 bi de dívidas do banco da família Setúbal,
o “digitaú”, e vende, pela mídia, uma suposta crise financeira nos Correios,
quando os números do e-commerce, aquelas compras pela internet, já envolve um
mercado de mais quase R$ 2 bi de faturamento apenas no dia dos Namorados, em
junho deste ano, acompanhando a tendência mundial em optar pela comodidade em
realizar compras nas redes.
Este é o panorama anterior à tramitação e votação da
denúncia protocolada pela Procuradoria-Geral da República, contra o presidente
Michel Temer por crime de corrupção passiva. A denúncia, que não foi comprada
nem pelo povo que se omitiu e não tomou as ruas pedindo pela investigação, e
muito menos pelo Congresso Nacional que viu ali a chance de praticar a velha
politicagem de troca de cargos e favores, custou R$ 14 bi em emendas
parlamentares penhoradas e descontos indiscriminados a base de parlamentares
ruralistas. O desconto foi tão generoso que, no popular, “matou dois coelhos
com uma cajadada só” em deixar de arrecadar R$ 10 bi e reduzir a alíquota (dedução)
do FUNRURAL, Fundo de Amparo ao Trabalhador Rural, que, entre outras coisas,
está entrelaçado ao beneficio da Previdência Social dos trabalhadores do campo,
de 2,3% para 1,5%. Isso deu ao governo os votos e um desconto na folha da
Previdência Social, já que, contribuindo menos, os trabalhadores receberão...
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter) |
As semanas posteriores a absolvição de Temer mostraram que o
desgoverno não domina, nem mesmo, aquilo que ele e tantos outros consideravam
ser incontestável. A economia não respondeu ao “tranco” (estranharia se
respondesse) e a meta de déficit será, tudo indica que nesta segunda-feira
(14), corrigida para R$ 159 bi de rombo, e as reformas, da Previdência e
Tributária, não devem sair neste ano por serem “impopulares” e estarmos
próximos das eleições de 2018.
A preocupação com o pleito do próximo ano é tão séria que os
parlamentares aprovaram um primeiro texto para uma “reforma política”. Essa, de
todas as reformas, é a única que não reforma nada. O texto que foi aprovado na
comissão especial criada na Câmara dos deputados para tratar do tema e que
agora segue para o plenário, onde passará dois turnos de votações, cria o “distritão”
e um fundo, estranhíssimo, intitulado de Fundo
Especial de Financiamento da Democracia com R$ 3,6 bi para auxiliar no
custeio das campanhas partidárias do próximo ano que, certamente, beneficiará
os eleitos no sistema do “distritão”, quando os mais bem votados ganham as
eleições sem a proporcionalidade de hoje. A autodefesa mais uma vez.
Este panorama abraça o corte de 543 mil benefícios do Bolsa Família¸ entre junho e julho, e contingenciamento no orçamento do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que não sabe como
cumprirá o cronograma de bolsas de pesquisas deste ano. Quando a história se repete...
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