No dia em que a
corrupção perdeu para estabilidade, a Venezuela foi pauta e o presidente
escapou assim como as mudanças.
A atual conjuntura política não, necessariamente, exige um
grau elevado de instrução dos que buscam compreende-la. Os dias têm sido dos mais explícitos e
espúrios. No popular, “só não vê quem não
quer”.
Toda a epopeia instaurada após a divulgação da delação de
Joesley Batista, quando contou ter se encontrado, tarde da noite, com o presidente
Temer para tratar de uma “semanada” de R$ 500 mil em busca de manter a relação
obscura e nefasta de sua empresa, a J&F,
com a administração pública, obrigou o País a assistir o seu último e decisivo
ato na ultima quarta-feira (02). Sem apreço a moralidade, 263 deputados deram a
cara a tapa pelo arquivamento da denúncia, protocolada pela Procuradoria Geral
da República, contra o presidente Temer por crime de corrupção passiva. Numa
das sessões mais emblemáticas da história política, o mérito, prosseguimento ou
não da denúncia, foi escanteado por falácias, ofensas e xingamentos contra o
que eles consideram ser “comunismo”, menções a crise institucional da Venezuela
e, no ápice da bizarrice, já na fase de votação, discursos de que impediram o
STF de investigar o presidente por conta
de uma, dissimulada, estabilidade econômica e política.
O uso desse discurso só não se equipara, quanto ao cinismo,
aos muitos acintes contra as leis trabalhistas, beneficiários de programas
sociais como Farmácia Popular e Bolsa Família, e, horas posteriores à
decisão na Câmara, o contingenciamento no orçamento do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq, impedindo o pagamento de
bolsas destinadas a pesquisas. A sessão que arquivou a denúncia até Temer
deixar o cargo, mesmo tendo cometido o suposto crime usando-se do cargo, finalizou
a 1ª temporada da volta do neoliberalismo, o mesmo do século passado, incluindo
o vicio em olhar para o norte das Américas, ao comando.
Para a 2ª temporada, Temer já definiu suas metas. A começar
pelo sistema previdenciário, ou melhor, pelo fim dele. O presidente está
confiante na tramitação e aprovação da reforma da previdenciária no Congresso
Nacional. A reforma altera os requisitos para a obtenção do beneficio pela
Previdência Social que, notoriamente, está falida e toma parte considerável do
orçamento público por ser a maior das dívidas que a União se sujeita(va) a
pagar. O rombo da Previdência Social supera os R$ 600 bi e muito desse valor
trata-se de calotes dados por empresas no repasse da contribuição. Para o
presidente e Congresso Nacional, essa dívida tem de ser paga por aquele que
sempre, em seu holerite, teve 8% de seu salário descontado. O mesmo que por
estar vivendo mais terá de prolongar a venda de sua mão-de-obra, como deseja a
reforma.
No dia anterior a votação da denúncia, o presidente não
hesitou em perdoar pouco mais de R$ 5 bi nas dívidas de grandes empresários
rurais pelo Fundo Rural, o FUNRURAL . O Fundo foi criado para assegurar a
contribuição a Previdência Social dos muitos, que até o inicio do século
trabalhavam em situação análoga a escravidão, trabalhadores rurais. Temer foi
tão generoso que reduziu pela metade a alíquota (dedução) de contribuição e ainda
autorizou o parcelamento dos débitos em mais de 170 vezes. A redução na
contribuição termina na também redução do benefício aos trabalhadores rurais
que aguardam, espero que aflitos, a reforma trabalhista rural, aquele que
permitirá a troca de serviços por comida, casa ou animais e frutas.
Temer estuda enviar uma reforma tributária ao Congresso
Nacional que, mais do nunca, o pertence. A reforma, certamente, trará muitos
pontos a serem alterados na carga de impostos do contribuinte assalariado. Não
me atrevo a acreditar que eles irão mexer na carga sobre os dividendos (em
Economia, a divisão dos lucros de uma empresa ou “salário” do empresário).
Diversos articulistas políticos reproduziram a falta de
mobilização legitimamente popular nas últimas ações pró-Temer. Mesmo ostentado
baixa, para não dizer nenhuma, popularidade, o presidente vai passando com a
sua caravana. Caravana sórdida que finge não escutar os anseios populares contra
a retirada de direitos.
Temer está à solta. Escapou da 1ª denúncia da PGR e, agora,
força o povo brasileiro a passar por sua ponte. Lembre-se, enquanto eles se
desdobram pela manutenção de privilégios, nós, por excelência, lutamos por
direitos e pela manutenção deles.
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