A correria é tanta que o presidente não conseguiu, nem mesmo, agendar o primeiro jantar de 2017 para a sua base aliada


A primeira semana de 2017 para o presidente Temer foi infinitamente distante da perfeição. O Presidente não tirou férias, passou as festas de Natal e Ano Novo com a sua esposa, Marcela Temer, e o seu garoto, o Michelzinho, tendo saído pouquíssimas vezes da Capital Federal. E o motivo para tal atitude? As muitas manchetes que o cercaram durante a passagem de ano. De creme de avelã, sorvetes norte-americanos a crise penitenciária e más colocações em seus discursos, os últimos trinta dias de Temer foram mais confusos que a presença dele e de outros políticos em Brasília como “representantes do povo brasileiro”. 


Assim que a imprensa divulgou, no inicio de dezembro, vazamentos da primeira delação premiada de um diretor da Odebrecht, o ex-diretor de Relações Institucionais, Cláudio Melo Filho, e o Datafolha apontou que 70% da população não aprovam o modo de governar de Temer, o presidente correu aos microfones e anunciou algumas “benfeitorias” que ele chamou de “estimulo para a microeconomia”. A ideia de Temer foi contra-atacar o mau momento e terminar 2016 “de bem” com os brasileiros. E realmente conseguiu, assim que anunciou a liberação dos valores das contas inativas do FGTS (85% desses não chegam a um salário mínimo), eu ouvi de várias pessoas que o “Temer enfim está dando um jeito no Brasil”. Brasileiro e o seu “qualquer trocadinho é válido”. Além de contra-atacar, Temer também quer colocar mais dinheiro no mercado. Mesmo com o elevado número de brasileiros com contas a pagar, ele espera que o saque seja usado no comércio. O presidente chegava ao fim do dia 22 de dezembro feliz, radiante e, por incrível que pareça, recebendo elogios de algumas partes da sociedade. Entretanto essa espécie de sossego durou apenas cinco dias. 


No dia 27, o frescor peculiar de um sorvete e a cremosidade de um creme de avelã voltaram a tirar o presidente do descanso dos justos. A lista de licitação de alimentos para o avião presidencial vazou, causou, viralizou e o que custaria mais de R$ 1.7 milhões, ficou apenas num desesperado cancelamento. Bom lembrar que os gastos com aviões presidenciais sempre tiveram suas cifras bem elevadas. 


Foto: REVISTA FÓRUM
Já em 2017. Enquanto comemorávamos o fim do interminável MMVI (2016), o presidente voltou a ser chamado e agora o chamamento vinha do Amazonas. Um massacre ou “acidente pavoroso” – como o presidente definiu o caso – envolvendo presos da maior penitenciária de Manaus. Foram 56 mortos e mais 112 fugitivos, depois que uma briga entre duas facções desencadeou uma rebelião. O presidio está mais que enquadrado na regra penitenciária brasileira: o espaço em que houve a confusão comporta 454 pessoas, mas, até domingo (01), 1224 homens viviam em celas tomadas. Seis dias depois, na ultima sexta (06), foi a vez de Roraima protagonizar mais um massacre. Novamente facções e 33 homens mortos e famílias desoladas. Mesmo sendo o sistema penitenciário de responsabilidade dos estados, o Palácio do Planalto, na figura do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, demorou, mas tem agido. A Força Nacional foi convocada, repasses têm sido feitos e “soluções” têm sido apresentadas: construção de cinco presídios de segurança máxima, como o presidente anunciou nessa segunda (09), enquanto visitava Porto Alegre.  


Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram)
Os acontecimentos de Manaus e Boa Vista que vitimaram 89 pessoas, seres humanos que estavam sob os cuidados do Estado, talvez por terem ocorrido em estados do norte do país, tristemente não tem chamado a atenção suficiente para a elaboração de soluções para um problema que assola e, pelo que vemos, continuará assolando o Brasil. Porém, como é de praxe, os lamentáveis episódios dessas duas capitais, levantaram uma discussão interessante: um bandido merece morrer? A família de um presidiário morto tem que receber indenização? E nós pagadores de tributos é quem pagamos o pato?

O ano é novo, mas, infelizmente, os problemas são velhos e persistentes. É lamentável chegarmos, enquanto sociedade, nessa encruzilhada em que é compreensivo que pessoas desejem a morte de bandidos. Já que, pessoalmente nunca passei pela situação de ser roubado ou violentado por um bandido, mas imagino que deve ser horrível, a sensação de perder aquilo que, com muito custo, você conquistou, além do temor em perder a vida. Outro ponto da encruzilhada são aqueles que não acham correto o pagamento de indenizações às famílias. Estes também estão certos. O país repleto de problemas e nós, como os maiores pagadores de impostos do mundo, tendo que pagar outro pato, que não é Alexandre e nem o amarelo da FIESP, mas está entre muitos que já pagamos. Por fim, a encruzilhada termina com as vitimas que nunca serão consideradas como tal: os famigerados marginais. Estes são apenas consequência de um processo milenar, resistente e destruidor. 


Aos nove dias de janeiro, o mundo perdeu uma das cabeças mais inquietas e primorosas. No alto de seus 91 anos, o sociólogo e pensador polonês Zigmunt Bauman partiu, mas como um belo intervencionista, suas obras continuarão a nos provocar e nos levar ao ato e efeito de pensar: o pensamento. 


 “O número desmedido de injustiças em nosso tempo é, para muitos, simplesmente parte da paisagem de normalidade”. Bauman 12/11/1925 – 09/01/2017
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Claudio Porto

Jornalista independente.

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1 comments so far,Add yours

  1. É Cláudio, explanação como sempre excelente. Eu tenho em todas as minhas conversas on e offline, batido na tecla de que o governo tem repassado SOMENTE para a Classe Trabalhadora a conta do que temos visto no Brasil em termos de corrupção (não se enganem, essa máquina não parou de girar, ao contrário) bem como da máquina da administração pública, que inchou ainda mais com os afagos de Temer. Os citados mimos alimentícios são uma grande mostra de que o Presidente não está nem aí pra sanear nada. Ah, mas são "valores ínfimos" DANEM-SE os valores, ele, deveria DAR O EXEMPLO, agir conforme seu discurso.

    Em relação aos incidentes ocorridos nas penitenciarias, não sei se "massacre" é o termo (apesar de toda a imprensa usar, remetendo o Carandiru) afinal, eles estavam "em condições de igualdade", foi uma guerra de facções, propiciada por um Estado inerte, que NÃO APLICA o que diz aplicar no sistema penitenciário, salvo raras exceções, isso pra mim é muito nítido.

    Sobre "bandido bom é bandido morto", é o que sempre digo, depende do "bandido", se ele faz pronunciamento em Rede Nacional no Natal para embromar, com "Haagen Dasz" no freezer o esperando, aí não. NÃO ESTÁ NA LEI que o Estado promova ou que permita o extermínio de presos. Portanto quem defende isso mostra um elitismo, um seletivismo, um conservadorismo, afinal, quem desses está dizendo, por exemplo que: ABDELMASSIH "bom, é morto"? Não vejo ninguém com esse discurso.

    Sobre as indenizações, os presos estão sob custódia direta do Estado, é uma questão JURÍDICA bastante complicada, mas que nos remete ao começo da discussão. O valor que é aplicado por preso é altíssimo, há o resultado? Será que os 2800 ou até 4000 por preso, vão mesmo para condições de cárcere dignas ou até mesmo de "recuperação"? São reflexões que as pessoas deveriam fazer.

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