O Brasil, enquanto colônia de Portugal, se apropriou por
muito tempo dos índios e negros como escravos. Em 2 de outubro de 1788, o navio
negreiro, “Amável Donzela”, capitaneado
por José de Azevedo Santos e mais 33 tripulantes, partiu de Lisboa até a atual
Guiné-Bissau, na África, onde por meio da truculência desterraram inúmeros
negros para o trabalho forçado no Brasil. O navio fez sete longas e súbitas
viagens carregado de africanos que, amarrados, sofriam com as mazelas do
tratamento que, com certeza, não era dado nem as piores mercadorias do período
comercial vivido pelos portugueses. Foram inúmeros anos de dor e escravidão até
à tarde do dia 13 de maio de 1888, quando a princesa regente, Isabel do Brasil,
sancionou a tão esquecida Lei Áurea. Realizando algumas continhas rápidas, de
1888 até o ano que estamos, 2016, se passaram 128 anos. Tempo mais que
suficiente para que nós, enquanto sociedade brasileira, estivéssemos vivendo
num Brasil que, no mínimo, respeitasse e lembrasse o fato da escravidão vivido
por esses que participaram, mais que efetivamente, do crescimento habitacional
e cultural do nosso país.
Se pensarmos um pouco, o nosso país é relativamente novo,
um dos caçulas do mundo. São apenas 516 anos de história. Os portugueses
chegaram por aqui em 1500, e já na década de 30, os primeiros negros chegaram.
Realizando mais algumas continhas, de 1530 até a lei Áurea em 1888, se passaram
350 anos. Isso mesmo, foram 350 anos de exploração de negros no Brasil, e mesmo
assim, estes ainda sofrem por apenas terem mais melanina que os considerados “humanos normais, civilizados”. A falta de representatividade nos muitos
campos da sociedade brasileira é o que, mesmo com a passagem do tempo, chama
atenção e tem levantado discussões e mais discussões, campanhas e mais
campanhas. Uma delas é o projeto “Não me
vejo Não compro!” promovido pela agência de fotografias afro, “Crespinhos SA”, em que coloca crianças
segurando pequenos cartazes com o nome do projeto, em forma de protesto a falta
de produtos que levem a imagem do negro, assim como levam figuras de brancos. Assim como o projeto da “Crespinhos SA”, existem inúmeras outras
campanhas de conscientização (que para mim é muito preocupante, já que estamos
em pleno século XXI, onde mais que, obrigatoriamente, as pessoas já deveriam
ter entendido que somos diferentes em todos os sentidos) que tem levado as
pessoas a refletirem e pesquisarem sobre o tema. O Brasil, mais do que nunca, precisa
estimular o debate, desde que embasado, sobre o racismo.
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Foto: Reprodução/ Crespinhos SA |
Mesmo com todas essas
campanhas publicitárias e institucionais, a ultima terça feira (25), ficou
marcada nas redes sociais por ter sido, mais uma vez, utilizada como o meio
para propagar o ódio, intolerância e racismo de alguns brasileiros contra uma criança
brasileira legitima. Uma garotinha NEGRA que aparenta ter 4 anos, foi alvo de
comentários racistas no Facebook, quando sua mãe publicou a foto da garota
segurando um papel que levava os dizeres da campanha: “Não me vejo Não compro!”, tendo como fundo mochilas da personagem
infantil Barbie, branca e loira.
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Foto: Reprodução/ Facebook |
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Foto: Reprodução/ Facebook | |
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Foto: Reprodução/ Facebook |
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Foto: Reprodução/ Facebook |
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Foto: Reprodução/ Facebook |
Enfim, após tamanha barbárie virtual, nos resta pensar qual
caminho estamos tomando. Será que o carioca Francisco Manuel da Silva, ao
compor o Hino Nacional, pensou num Brasil miscigenado e respeitador como o tão
cantado “sonho intenso”? Mesmo considerando que a democracia seja o
mais perverso regime ditatorial, já que dá a impressão de que participamos nas
escolhas, e todo aquele que se opõe é logo considerado fascista, espero que NÓS
BRASILEIROS possamos a partir do conhecimento de nossa história, nos tornar
mais DEMOCRATAS.
Reflexão sensacional, Cláudio, parabéns. A canalhice que vemos de preconceito entre o proletariado (o que é mais do que absurdo) é muito fruto dessa lógica de manipulação, da repetição de padrões implantados pelas classes dominantes, enfim...
ResponderExcluirA triste conclusão que se chega, é que a sociedade brasileira vive hoje uma escravidão silenciosa e fatalmente nociva, a "escravidão intelectual". É tudo que os opressores querem, que o também oprimido, sinta-se opressor e ache isso lindo, "idiotas"..
Tbm fico impressionada com a barbárie em que vivemos.
ResponderExcluirParabéns por sua capacidade de traduzir a indignação de muitas pessoas.
Tbm fico impressionada com tanto preconceito e tamanha barbárie em pleno século xxi.
ResponderExcluirParabéns por conseguir com seu texto, traduzir a indignação de muitas pessoas.