Partido dos Trabalhadores e seu peculiar pragmatismo. Neutralidade é muito pouco

Como explicar ao militante petista pernambucano o fato de a vereadora do Recife Marília Arraes, agora ex-candidata ao governo do estado do Pernambuco pelo Partido dos Trabalhadores – PT, não ter a oportunidade de pleitear a administração daquele estado em outubro próximo? 
Foto: Folhapress
O acordo anunciado entre PT e o Partido Socialista Brasileiro – PSB pode ter assegurado à neutralidade dos socialistas no pleito presidencial e frustrado o candidato Ciro Gomes (PDT), que negociava numa aliança com os pessebistas o fim de seu isolamento político, entretanto sacrificou a postulação da neta de Miguel Arraes, espécie de patrono do PSB, em troca não de apoio em sua campanha presidencial, mas, em um primeiro momento,  para minar as negociações de um concorrente e assegurar uma ampla coligação em Minas Gerais, onde Fernando Pimentel (PT) tenta a reeleição, e, de quebra, aumentar o número de palanques para o candidato da legenda à Presidência – hoje, segundo o PT, o candidato é o ex-presidente Lula.

Com discurso de oposição ao atual governo de Paulo Câmara (PSB), Marília Arraes liderava todas as pesquisas de intenção de voto para o governo pernambucano, além de fazer defesa incondicional ao ex-presidente Lula, preso em Curitiba desde 7 de abril e com 65% das intenções de votos no estado nordestino, segundo o jornal Diário de Pernambuco. A posição de Marília como ameaça ao PSB em Pernambuco, estado chave para a sigla, a colocou como ativo político valioso nas negociações de pré-campanha do PT, onde é filiada desde 2016. Ela foi usada para pressionar o PSB por uma aliança em torno do ex-presidente Lula ou, como se confirmou, pela tal neutralidade do partido que detém 3min:50s de tempo em Rádio e TV, segundo levantamento do banco BTG-Pactual.

Por 17 votos a 8, a Executiva Nacional do PT decidiu pela retirada de Arraes do pleito pernambucano, condicionando agora o apoio petista à Paulo Câmara (PSB), no Pernambuco, apesar dos embates já protagonizados entre a ex-candidata e o atual governador, e em estados como Paraíba, Amazonas e Amapá. Em troca, o partido de Câmara retirou a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, ao governo de Minas, deixando o caminho livre para a polarização entre Pimentel e Antônio Anastasia (PSDB), investigado por ter recebido vantagens indevidas da Odebrecht e aliado de Aécio Neves(clique!).

Vereadora do Recife há três mandatos – sendo os dois primeiros pelo PSB –, Marília é prima de Eduardo Campos – candidato à Presidência da República em 2014, morto em acidente aéreo naquele mesmo ano –, e lançou mão, para a candidatura que se desfez, de um plano de governo de reconstrução do estado após a alternância de PSB e PFL/DEM na administração.

O pragmatismo do PT isolou Ciro Gomes (PDT), com seu quase meio minuto de programa em dois blocos diários no Rádio e TV, e talvez tenha deixado a jovem liderança política pernambucana de 34 anos para os pleitos de 2020 ou 2022, mas terá de explicar ao eleitor da terra de Lula as contradições de tal acordo.

PS: Marília Arraes entrou com recurso contra a decisão da Executiva petista e resiste em retirar sua candidatura. Em vídeo, ela disse que não tem o direito de recuar "e colocar a esperança do povo de Pernambuco como moeda de troca a preço de banana. A neutralidade é a única coisa que Paulo Câmara e seu grupo político podem oferecer porque não tem força de levar o partido dele para um lado ou para o outro". Posição a qual também defendo. Somente neutralidade é muito pouco.


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Claudio Porto

Jornalista independente.

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