Final de ano agitado com “tropa de elite” no corpo ministerial e previdência na pauta do Congresso
 
O diretor e cineasta José Padilha é responsável por um dos campeões de bilheteria do cinema do País, a sequência de filmes Tropa de Elite e Tropa de Elite 2: O Inimigo agora é outro. Em obras cinematográficas que abusam das características dos morros cariocas, assim como as alianças das forças policiais e milícias do Rio de Janeiro, Padilha não imaginava que o título da sua sequência de ação se tornaria expressão corriqueira quando relacionada a grupo de homens que, como em batalhões, se unem na luta por um ideal, mesmo que o ideal que motive a suposta luta não seja tão afeito a moral ou a ética. Se na alegoria de Padilha, Wagner Moura interpreta o protagonista “Capitão Roberto Nascimento”, na alegoria imposta por uma manobra política de vários “diretores” e “apoios”, entre eles o “Não vou pagar o pato” da Fiesp e camisas da seleção canarinho, Michel Elias Temer Lulia protagoniza um dos mais sórdidos enredos de nossa história política que, acredite, também conta com uma  espécie de “tropa elite”. A diferença é que a “tropa de elite ou de “choque” de Temer não dura apenas 4 horas – tempo de duração dos dois filmes. A do presidente vai além, tem raízes centenárias como a figura da família do deputado Bonifácio de Andrada, relator da segunda denúncia contra Temer, e não importa-se em saquear, ao menos, 587 milhões de reais dos cofres públicos, segundo a PGR, além, é claro, de sustentar o (des)governo.
 
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter)

Mesmo usurpando dinheiro público e aprovando pautas desastrosas no Congresso Nacional, a “tropa de elite” de Temer se livra das grades, muito por conta da seletividade das operações de investigação em curso, e ganha presentes, quase condecorações por fazer um mau trabalho à democracia. Entre seus integrantes, a “tropa de elite” do presidente deu ao Brasil o deputado federal pelo PMDB de Mato Grosso do Sul, Carlos Marun. Ao lado dos deputados federais Darcísio Perondi (PMDB-RS) e Beto Mansur (PRB-SP), outros integrantes da “tropa de elite”, ele é parceiro íntimo de Temer na Câmara dos deputados. Todos os desejos do presidente, principalmente o arquivamento das duas denúncias por crimes comuns contra ele, foram muito bem articulados por essa “tropa de elite” que, agora com o (des)governo próximo do ano derradeiro, começa a ganhar mais espaço na esplanada dos ministérios. É que Marun, compositor chinfrim e sem ritmo (vídeo abaixo), foi escolhido pelo presidente para assumir a Secretaria de Governo, ministério usado apenas no que eles denominam de “articulação política”, a boa e velha negociata com o parlamento.
 Vídeo: Reprodução / Canal "RIT Notícias" no Youtube

O deputado, parceiríssimo de Temer, substitui outro deputado, o tucano Antônio Imbassahy (PSDB-BA), que estava no cargo desde que Geddel Vieira Lima, hoje preso na Papuda e que a mídia curiosamente não o pressiona para “delatar”, promoveu uma - das muitas - crises no corpo ministerial de Temer, no ano passado, quando exigiu do então ministro da cultura Marcelo Calero que interviesse no IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – e facilitasse a construção de um condomínio de luxo,em Salvador, onde Geddel tinha comprado um apartamento.
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Carlos Marun (PMDB-MS) é o segundo a chegar à esplanada dos ministérios neste final de ano. O outro, deputado Alexandre Baldy (PODEMOS-GO), assumiu o Ministério das Cidades na semana passada. As mudanças no corpo ministerial fazem parte da tentativa desesperada de emplacar a tal reforma da previdência ainda neste (des)governo.


Previdência. A mudança na Secretaria de Governo, anunciada pela conta oficial do “Planalto” no Twitter e ainda não confirmada pelo presidente Temer, porém muito encaminhada, faz parte da pressão do (des)governo em tentar emplacar a reforma da previdência ainda neste ano. 
 
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O presidente Temer chegou a se reunir, em mais um daqueles jantares no Palácio da Alvorada, com sua base aliada numa tentativa de costurar os 308 votos, o mínimo necessário para a aprovação, em dois turnos, da Proposta de Emenda à Constituição número 287, a PEC 287. 


Impopular, a reforma da previdência sofreu muitas adaptações para facilitar a tramitação no Congresso Nacional e tirar, mesmo que um pouco, da vergonha dos parlamentares – eles sentem vergonha da reforma. O último texto apresentado pelos deputados e que será pautado no plenário da Câmara, assim que o (des)governo tiver os 308 votos mínimos necessários para aprovar a medida e não passar vergonha perante o “cafetão” mercado, mantém a ideia de idade mínima para solicitar a aposentadoria - 65 anos para homens e 62 para mulheres a partir de 2038 –, mas diminui o tempo mínimo de contribuição, dos 25 anos da primeira proposta enviada ao Parlamento para 15 anos. 


As mudanças começariam a valer no ano seguinte a aprovação da reforma, mas a obrigatoriedade da idade mínima – 65 anos para os homens e 62 anos para as mulheres -  será aplicado apenas daqui 20 anos. No meio tempo, o texto instituí um período de transição, em que a idade mínima começaria com 52 anos para as mulheres e 55 para homens e iria subindo gradativamente.


No novo texto, o último apresentado, o grupo de militares – correspondente à 1/3 de todos os servidores públicos e responsável por 44,8% no rombo da previdência – está de fora por motivação política. A classe política preferiu não enfrentar a classe daqueles que se aposentam de maneira mais que antecipada e ainda saem se gabando por serem “aposentados por carreira militar” com benefício, geralmente, superestimado.  
 
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Assim como a reforma trabalhista foi comercializada como sendo necessária por ser, segundo o (des)governo, “modernização de leis obsoletas”, a da previdência vem para impedir um suposto colapso na economia do País. O patrono reformista, ministro da Fazenda Henrique Meirelles – aquele que não confia no sistema financeiro e investe em offshores fora do País -, escandalizado com um, também suposto, rombo na Previdência Social, não passa de um enviado – um arauto – do deus mercado que vislumbra o pós-reforma com a dominação das muitas – muitas mesmo – previdências privadas. 


Outro ponto curioso desta “pseudoreforma” é o rombo que, nem com CPI instaurada pelos senadores, conseguiu-se elucidar. De acordo com o patrono, o rombo é de R$ 800 bilhões. Este rombo é consequência de inúmeros calotes de grandes empresas à Previdência Social. Entre os maiores devedores estão bancos e empresas como a, talvez mais simbólica, JBS, do empresário preso Joesley Batista, e que teve como conselheiro-administrativo por alguns anos o mesmo patrono da reforma, o ministro Henrique Meirelles. 


Enquanto sujeito dos números no grupo empresarial de Joesley, preso, Batista, o ministro parecia não se importar muito em dar calotes a mesma previdência que ele, agora, quer defender do “colapso”.  


Dívida. O mesmo (des)governo que cantarola estar retomando a economia do País, permitiu que a dívida pública – fonte de renda para rentistas bancários – chegasse 4,8 trilhões de reais, consumindo 78,9% do nosso PIB.
 
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Alguns comentaristas de política e economia condenam a política econômica dos governos petistas, chamam-na de populista e responsável pela suposta crise. O (des)governo Temer vende tudo – fonte energética do País nas mãos de chineses e franceses, e o Pré-Sal na mão dos britânicos e, claro, norte-americanos -, impõe pseudoreformas, é impopular, fez uma adaptação do PAC petista e agora, às vésperas de ano eleitoral, investirá pesado em mais de 7 mil obras pelo “Agora, é avançar”,  aumenta a dívida pública, mas está tudo bem e os números, enfim, são “positivos”. Temer, Meirelles e este Congresso são “primores” na economia, ao menos é isso que o silêncio dos comentaristas de política e economia passa.


Provolone. O Congresso, primor em recuperar economia e base para o (des)governo, é cheio de curiosidades, parece insuperável. Se começamos este artigo com a formação de “tropa de elite” neste mesmo Congresso, ele ainda oferece raridades, próprias da tragicomédia, do tipo Celso Jacob, deputado pelo PMDB do Rio de Janeiro e preso em regime semiaberto por falsificação de documento público e dispensa de licitação, que durante o dia vai ao Congresso discutir as pautas do (des)governo e pela noite volta à Papuda para a “noite dos justos”. 
 
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Na semana passada, o deputado foi pego tentando adentrar o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, com um pedaço de queijo provolone e alguns biscoitos na cueca. 


O queijo e os biscoitos não deram em nada além de enriquecer o lado cômico da tragicomédia da política nacional, mas a ausência de supervisão na Câmara deu margem para o Ministério Público revogar a autorização dada a Celso Jacob (PMDB-RJ) para exercer seus trabalhos no Congresso. Essa revogação não poderia vir em momento mais oportuno que o final de ano, às vésperas do Natal e Ano Novo.



Êh, Brasil!


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Claudio Porto

Jornalista independente.

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