Quando ousamos pensar
que as coisas não podem piorar, elas pioram e numa semana em que Temer e Maia
viajam, sobra para Eunício Oliveira à missão de comandar o Planalto de mais um
íntimo de Temer preso
Quando vemos um ex-ministro, aliadíssimo do presidente da
República, preso é mais que um sinal de que as últimas semanas e meses têm sido
tudo, exceto normais. Ou pior, quando os
ministros do STF parecem não se importar com crítico momento da Política
nacional e saem distribuindo favores usando-se da Justiça, aquela que deveria
ser igual a todos, sem muito critério. A desconjuntura é tão pulsante que o
presidente, o mesmo que cometera o sacrilégio da autodenominar-se escolhido por
Deus, agora discursa que os outros, especialmente os acusadores, são os escolhidos,
os “iluminados por uma centelha divina”.
O presidente Temer viajou para a sua, certamente, pífia e
vergonhosa participação na reunião com os líderes dos vinte maiores países do
mundo. Este ano, a cidade alemã de Hamburgo receberá, já com alguns protestos
na véspera, o encontro do G20 e Temer, que hesitou em participar, deixou o País
na última quinta (06) com previsão de volta já para sábado (08). O País ficou
sob os comandos do presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira (PMDB-CE), o “índio”
na planilha da Odebrecht, já que o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente
da Câmara e primeiro na linha sucessora, viajou para a Argentina. A pressa na
viagem é consequência da necessidade do presidente em negociar com a base
aliada na Câmara. Há notícias de que Temer embarcou em um avião maior e mais
potente somente para assegurar sua ida e volta sem paradas.
Ao contrário da viagem de Temer, muita coisa anda parando,
estagnando no País. Esta semana, logo na segunda (03), Geddel Vieira Lima,
ex-ministro nos Governos de Lula, Dilma e Temer, foi preso e ameaça, ainda
mais, o presidente denunciado. Geddel esteve
à frente da Secretaria Geral da República, pasta exclusivamente destinada a
negociar os interesses do Governo com o Congresso Nacional, até novembro quando
se envolveu em um imbróglio com o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, assim
que tentou usar de suas forças políticas para influenciar na construção de um
prédio no litoral da Bahia, onde Geddel tinha comprado um apartamento.
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter) |
Na terça (04), Vanessa dos Santos, 10 anos, morreu com um
tiro na cabeça dentro de sua casa. A garota foi atingida por uma “bala perdida”,
após policiais militares entrarem em sua casa buscando por suspeitos. Há uma
semana, o Brasil acompanha a dor, isto mesmo, dor, do pequeno Arthur Cosme
atingido também por uma bala perdida no útero da mãe, Claudineia dos Santos Melo.
A mãe deixou o hospital nesta quinta (6). Já o recém-nascido (não sei se cabe a
nomenclatura “recém-nascido”) Arthur Cosme segue internado. Todos estes casos
aconteceram no estado do Rio de Janeiro, durante ações da Polícia Militar
contra o tráfico de drogas nas comunidades e cidades da baixada fluminense.
Para combater ou ao menos evitar que situações como estas voltem acontecer, o
presidente Temer, antes de partir para Hamburgo, na Alemanha, deixou a Polícia
Federal e Rodoviária Federal sem recursos. A última quinta (06) foi de anúncios,
por parte da PRF, de redução nos serviços oferecidos pela força policial. Não
haverá mais rondas pré-programadas ou escoltas agendadas, além de alteração nos
horários de atendimento ao usuário. A PRF, assim como a PF sofreram cortes nos
orçamentos. Na PRF o corte foi de 40%.
Como boa parte da população brasileira sabe, a PF, PRF e as
Forças Armadas são as principais responsáveis pela segurança das fronteiras e
estradas federais. Elas existem para, entre outras coisas, combater a entrada
de alucinógenos e armas no País, e evitar casos como os de Vanessa, Arthur e
muitos outros. Para o presidente, as emendas valem mais. E valem mesmo.
Imagem: QUADRINSTA (@Quadrinsta no Instagram e no Twitter) |
As emendas parlamentares foi outra área que sofreu muito em
todo este primeiro semestre, especialmente no mês de junho. A diferença é que
elas não sofreram cortes, mas sim um superávit inimaginável para um país em
crise financeira. Segundo a agência de notícias internacionais Reuters, a Presidência da República
comandada por um, quase, réu por crime de corrupção passiva, liberou, desvairadamente,
o valor próximo a R$ 1,5 bilhão em repasses a deputados e senadores somente
este ano. A Folha de S. Paulo também
fez uma reportagem sobre, e mostrou que o número de emendas aumentou após a
delação e gravação de Joesley, e a abertura da denúncia contra o presidente.
Somente no mês de junho, os repasses chegaram a R$ 529 milhões, 1/3 do valor
repassado desde janeiro.
Ainda de acordo com a reportagem, os senadores José Serra (PSDB-SP)
e Marta Suplicy (PMDB-SP) foram os parlamentares que mais se aproveitaram da torneira
aberta por Temer: R$ 9,6 milhões e R$ 9,4 milhões, respectivamente. Garanto que
nem paulistas, muito menos paulistanos, já que não há muita amizade dos
senadores com o prefeito João Dória, sabem explicar onde estão esses repasses. Na Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) pegou R$ 3
milhões em emendas, e o presidente da comissão que julgará a admissibilidade da
denúncia contra Temer, o deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), aquele que criou
um desafeto com o presidente ano passado, recebeu R$ 2,7 milhões em repasses.
Estão todos amarrados. Não sei se Temer lembrará destes
fatos enquanto participa da cúpula do G20. Assim como os outros 19 líderes,
Temer também não comentará problemas “pequenos” como morte de criança por bala
perdida ou cortes de repasses a policiais rodoviários. A coisa lá é maior, a
briga é outra: a manutenção, mesmo que mínima, de um sistema em derrocada. Para
Temer e muitos outros líderes, é menos sofrível assistir a fatos como o da
Vanessa, invés de aceitar a necessidade de mudanças efetivas.
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